O suicídio do ex-presidente do Peru Alan Garcia, ao receber um mandado de prisão em casa, é a explicitação trágica do esquema de corrupção que a empreiteira Odebrecht espalhou pela América Latina e África ao replicar naquelas regiões o modelo de negócios que implantou no Brasil durante os anos petistas.
Foi graças à interferência do próprio presidente Lula, hoje preso em Curitiba, e com o apoio do BNDES, que a empreiteira brasileira se espalhou por todos os países governados por uma esquerda que tinha como pretexto a integração latino-americana, e objetivo dominar politicamente a região.
A Odebrecht, no entanto, não escolhia posição política. O Peru é um exemplo: Pablo Kuczynski, ex-presidente de direita, está preso devido a delações premiadas da empreiteira, no Brasil e nos Estados Unidos, e outros dois ex-presidentes enfrentam investigações judiciais: Alejandro Toledo (2001-2006), de direita, e Ollanta Humala (2011-2016), de esquerda. Fujimori esteve preso por outro caso de corrupção.
Na Lava-Jato peruana, a conexão brasileira surgiu na delação premiada do advogado brasileiro José Américo Spinola, que afirmou ter pago a Alan Garcia US$ 100 mil a pedido da Odebrecht. O ex-presidente alegava que o dinheiro era pagamento por uma palestra.
Ao investigar as contas internacionais, secretas ou declaradas, do marqueteiro João Santana, a operação Lava Jato descobriu um grande esquema ilegal de financiamento de projetos políticos de esquerda pela América Latina e a África.
Em diversos desses países, o marqueteiro João Santana recebeu pagamentos ilegais através de empresas offshores alimentadas pela Odebrecht, que tinha interesses na eleição de políticos do esquema devido a financiamentos de grandes obras de infraestrutura.
A atuação internacional da empresa de João Santana começou em 2003, mesmo ano em que Lula chegou ao poder no Brasil. Na Argentina, coordenou campanhas legislativas, municipais e governamentais até 2007 na região de Córdoba, para depois chegar à campanha presidencial dos Kirchner. Em El Salvador, fez a campanha na eleição do presidente Maurício Funes, em 2009, da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), grupo guerrilheiro formado nos anos 1980 que se transformou em partido em 1992.
Em 2012, a Pólis, sua empresa de marketing, atuou em Angola, na campanha do presidente José Eduardo dos Santos pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), financiada em parte com dinheiro depositado em conta offshore de Santana na Suíça. No mesmo ano, ajudou a reeleger na Venezuela o ex-presidente Hugo Chávez.
Na República Dominicana, também em 2012, Santana coordenou a campanha de Danilo Medina, que disputou contra o ex-presidente Hipólito Mejía, sendo reeleito em 2016. Com a queda do bolivarianismo em vários países da América Latina, o ambiente político mudou muito, e as negociatas começaram a surgir, sempre tendo como centro as empreiteiras brasileiras, em especial a Odebrecht.
A emergência de uma direita politicamente forte no mundo, culminando com a eleição de Jair Bolsonaro no Brasil, leva a esquerda a perder força na América Latina, com a maioria dos países governados por partidos de direita, revertendo uma situação geopolítica.
Há cinco anos, dos 12 países da região, (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela), só três eram governados por partidos de centro ou à direita: o Chile, de Sebastián Piñera, o Paraguai, de Federico Franco, e a Colômbia, de Juan Manuel Santos.
Dos governantes de esquerda de então, vários estão presos ou sendo acusados ou processados por corrupção, como Rafael Correa, do Equador, Cristina Kirchner, da Argentina, Lula, do Brasil, Maduro, da Venezuela, entre outros. E o escândalo da Odebrecht foi exportado para diversos países: Argentina, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guatemala, México, Panamá, Peru, Venezuela. A atuação da Odebrecht na construção de hidrelétricas, aqui e em países da América Latina e da África, elevou o volume de corrupção.
É da disputa para a construção de hidrelétricas no norte do país que trata a mensagem de Marcelo Odebrecht que se referia ao então Advogado-Geral da União Dias Toffoli como “o amigo do amigo de meu pai”. Toffoli fazia parte de uma força-tarefa do governo petista para dirimir dúvidas jurídicas nas licitações dessas grandes obras.
O Globo