O ex-ministro Ricardo Vélez queria reescrever livros didáticos para falsificar o passado. Seu sucessor quer usar o cargo para turbinar o bolsonarismo no futuro. Com Abraham Weintraub, a Educação deve continuar refém de cruzadas ideológicas. O novo ministro promete ser um segundo Vélez, sem o sotaque colombiano do original.
Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Weintraub insistiu na pregação contra o “marxismo cultural”, um mantra dos olavetes. Disse que é preciso “tomar cuidado com tudo o que sair do MEC, como livros didáticos”. “Estamos preocupados com vazamentos, com sabotagens”, confidenciou, em tom de paranoia.
O novo ministro rejeitou o título de “caçador de comunistas”, mas disse que buscará a “redenção” de quem pensa diferente. “A pessoa não é má pura e simplesmente. Está envolvida numa mentira e aquilo é uma realidade para ela. Precisamos explicar que é uma ideologia errada”, dissertou.
Ele também sugeriu catequizar estudantes para evitar a volta da esquerda ao poder. “Uma pessoa que sabe ler e escrever e tem acesso à internet não vota no PT”, disse. A declaração equivale a chamar de ignorantes mais de 47 milhões de brasileiros, petistas ou não, que votaram no rival do chefe dele.
A exemplo do antecessor, Weintraub estimula o revisionismo histórico para bajular o presidente Jair Bolsonaro. Ele chamou o golpe de 1964 de “contrarrevolução” e disse que não concorda “em chamar de ditadura” o que veio a seguir. Também defendeu “tirar o Bolsa Família” de alunos envolvidos em agressões, o que só condenaria seus pais e irmãos a mergulhar mais fundo na pobreza.
No primeiro dia à frente do MEC, Weintraub distribuiu cargos a outros economistas sem experiência em educação. Ele prometeu destravar a gestão da pasta, o que não será difícil na comparação com a era Vélez. Falta saber se tem algum plano para melhorar a qualidade do ensino. Os desafios do setor são grandes e complexos. Não serão resolvidos com lições do curso online de Olavo de Carvalho.