Pra começo de conversa. Não é tarefa fácil a do governador João Azevedo. Suceder um governo cuja avaliação positiva bateu na casa dos 80% já seria uma missão árida, elevada ao cubo com o peso de assumir a cadeira de Ricardo Coutinho, a maior liderança política do Estado, forjada em trinta anos de trajetória.
As comparações, portanto, são inevitáveis. João convive nessa primeira fase com a sombra de Ricardo, um processo, até certo ponto, natural. Uma coisa já ficou previamente assentada: as personalidades são totalmente diferentes. Ricardo o do embate. João o da cautela. Coutinho o do sangue no olho. Azevedo pouco afeito ao confronto. Postura, por exemplo, que facilitou o diálogo com o governo Bolsonaro.
Enfrenta uma linha tênue. A necessidade de aos poucos marcando o passo da identidade própria sem ultrapassar a fronteira dos acordos e compromissos políticos ou transmitir a imagem de distanciamento/ruptura.
A convergência fica no modelo de gestão. O atual governador segue à risca o itinerário construído desde 2011 pelo PSB. Equilíbrio fiscal e investimentos estruturantes. Mantém a regularidade no pagamento da folha de pessoal e de credores, o cronograma de obras em andamento e o anúncio de novas ações.
Duas merecem registro. A redução da conta de energia para usuários de baixa renda, a abertura de licitação do Centro de Convenções de Campina Grande e os Centros de Controle e Monitoramento de Seguranca, três promessas do programa de governo em campanha. A gestão sucessora continua batendo metas na redução de crimes e botou nesse saldo, também, o destravamento do empréstimo de R$ 300 milhões para programas de desenvolvimento rural.
Um ruído, entretanto, se repete. A relação com o parlamento e a base aliada, alvo de sussurros e ruminações antigas de deputados. Assim como Ricardo, a articulação política de João ainda não conseguiu o ponto dessa interação. Da conturbada eleição da Mesa da Assembleia até agora, o clima é de guerra fria. Ruim.
Ao mesmo tempo, João também administra o desconforto dos estilhaços gerados pela Operação Calvário e a prisão de uma secretária destacada do governo (Livânia Farias). Tem sabido gerenciar a crise. A assinatura de TAC com Ministério Público, o sinal de que não renovará contrato com a Cruz Vermelha e o decreto aumentando o rigor para contratação de novas organizações sociais são demonstrações.
No geral, Azevedo vai tocando o governo da forma como o paraibano esperava: efetivo e discreto. Bem ao seu estilo pessoal e técnico. E nisso também acerta. Seria forçação de barrar tentar encarnar as peculiaridades do antecessor. Ricardo só tem um. A Paraíba votou em João para ele ser João.