Palavra de capitão. Por Ricardo Noblat – Heron Cid
Bastidores

Palavra de capitão. Por Ricardo Noblat

5 de abril de 2019 às 10h00 Por Heron Cid
(Foto: Sergio Lima/AFP)
Jair Bolsonaro é um homem de palavra. Durante a campanha presidencial do ano passado, disse que se fosse eleito o governo passaria a pagar um 13º salário às 14 milhões de famílias beneficiadas pelo programa Bolsa Família.

Ontem à noite, confirmou que pagará. Não importa que a ideia originalmente tenha sido defendida por Paulo Câmara (PSB), governador de Pernambuco e, na época, candidato à reeleição. E que tenha sido encampada depois pelo general Hamilton Mourão.

O Nordeste detém o maior contingente de famílias contempladas pelo programa. Foi ali que Bolsonaro enfrentou as maiores dificuldades para se eleger. Nos oito estados nordestinos, perdeu em todos. Perdeu também no Pará. Ganhou com folga no resto do país.

A palavra do capitão tem se confirmado com o resgate de outras promessas. Prometeu alinhar o país aos Estados Unidos. É o que faz. Seu ministro das Relações Exteriores antecipou que Bolsonaro visitará países árabes, mas só os de confiança dos americanos.

Coerência acima de tudo. Como no caso recente de mais um aniversário do golpe militar de 64. Bolsonaro sempre afirmou que o golpe não foi golpe, nem a ditadura foi ditadura. Mandou, pois, que os militares celebrassem mais um aniversário da revolução de 64.

Em outro esforço inaudito de coerência, mandou também que seu ministro das Relações Exteriores telegrafasse à Organização das Nações Unidas (ONU) para dizer que não houve golpe por aqui. Tampouco, é claro, ditadura. Espera que a ONU se corrija.

Em visita a Israel, Bolsonaro foi aprovado com louvor na mais dura prova a que submeteu sua convicção de que a esquerda pariu o nazismo. Visitou o Museu do Holocausto. Ali se ensina que o nazismo foi invenção da direita. Nem por isso mudou de opinião.

De Bolsonaro se poderá dizer qualquer coisa, menos que tenha traído sua palavra ou seu pensamento. Não há chance de ele decepcionar seus devotos nem seus adversários.

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