O novo tipo de 'articulação', a do jogo duro – Heron Cid
Opinião

O novo tipo de ‘articulação’, a do jogo duro

27 de março de 2019 às 15h54 Por Heron Cid
Jair Bolsonaro (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)

O presidente Jair Bolsonaro já decidiu qual jogo jogar no processo de debate e votação da reforma da Previdência no Congresso. E é um jogo novo: nada fazer.

Ao que parece, Bolsonaro está convencido de que a sua parte, a de propor, está feita. Agora é com o Parlamento.

O ex-capitão não faz o menor esforço para convencer deputados e senadores à moda antiga, no bom português, o loteamento de espaços e cargos.

Assim, Bolsonaro dá uma satisfação ao mercado, que lhe ajudou na eleição, mas não vai perder um fio de cabelo para aprovar o projeto. Se o mercado quiser fazer pressão que faça ao Congresso.

Para entender um pouco da lógica é preciso considerar o comportamento peculiar e singular do presidente, um obstinado a desconstruir para depois construir algo, como ele mesmo disse na viagem aos Estados Unidos.

Quem esperar o convencional de Bolsonaro é, pelo menos, inocente, para não chamar de desatento. Jair é fruto quase de uma anti-eleição, aquela em que o eleitor escolhe romper com tudo o que está posto. Inclusive o padrão tradicional de política que nos levou para um escuro buraco.

E, no fim das contas, ele sabe que os mercados e as bolsas da vida não foram o fator determinante para sua condução ao Planalto. Esses vieram por gravidade e a reboque da onda popular que atropelou os preferidos do bunker da economia, entre eles, Geraldo Alckmin.

Quando se recusa ao diálogo pragmático com partidos e líderes, ao seu modo Bolsonaro empareda os congressistas: se a reforma for aprovada, mérito do governo. Se for rejeitada, entra na conta e ônus dos parlamentares.

E ainda há quem ache que do jogo da política o ex-deputado não entende. Entende e moldou uma nova forma de jogar.

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