Ter uma boa química com o presidente dos Estados Unidos sempre é bom para o Brasil. Fernando Henrique teve com Bill Clinton e Lula teve com George W. Bush e Barack Obama. Jair Bolsonaro, sem dúvida, também teve com Donald Trump, como vimos hoje na Casa Branca. Mas exagerou ao se mostrar “trumpista” e afirmar ter certeza na reeleição do republicano no ano que vem. Também errou ao dizer a inverdade de que seus antecessores eram anti-americanos. Isso não corresponde à realidade. Foram declarações desnecessárias, assim como a de dizer em entrevista para a Fox News que a maior parte dos imigrantes não quer o bem dos americanos — na tarde desta terça, o líder brasileiro recuou e se arrependeu da declaração, segundo afirmou em coletiva para a imprensa brasileira. Por último, errou em levar seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, em vez do chanceler, Ernesto Araújo, para a reunião no simbólico Salão Oval.
Não fossem estes gols contra, incluindo outras declarações atacando a imprensa, Bolsonaro volta ao Brasil com alguns bons resultados na bagagem, como o status de aliado extra-OTAN dos EUA. Veio tarde. A Argentina já é desde 1998. Também ganhou o apoio de Trump no projeto de ingressar na OCDE, que pode demorar até quatro anos, mas ao custo de perder o status de país com tratamento diferenciado na OMC. Trata-se de uma equação onde teremos alguns benefícios, mas também malefícios. Na avaliação do governo, o resultado será positivo. Veremos. Houve ainda o acordo para o uso da base de Alcântara, embora não esteja muito claro o que o Brasil ganhará em troca. A decisão de eliminar os vistos, que pode aumentar o turismo, por um lado, ao mesmo tempo que bate de frente com a histórica política da reciprocidade na diplomacia, independe dos EUA e da viagem. Poderia ter sido tomada de Brasília.
Para os EUA, o mais importante foi saber que Bolsonaro está na mesma página na Venezuela. Apesar de muito ruído falando em intervenção militar, o presidente americano, assim como o brasileiro, ainda estão longe de defender esta opção. O foco está na diplomacia, e a Casa Branca quer a ajuda dos brasileiros para ter um canal de diálogo com militares venezuelanos, vistos como fundamentais para derrubar Maduro. Trump também deve endurecer as sanções à ditadura venezuelana. Vale lembrar, porém, que sanções fracassaram para derrubar regimes ditatoriais em Cuba, Coreia do Norte, Irã, Iraque (Saddam foi derrubado pela força militar), Líbia (idem), Sudão e Síria.
O Globo