O massacre de Suzano deveria impor algum constrangimento aos políticos que investem na apologia das armas. Aconteceu o contrário. A turma aproveitou a tragédia para faturar mais um pouquinho, explorando o choque e a comoção dos eleitores.
Campeão de votos em 2018, o senador Major Olímpio abriu o festival de oportunismo. “Se tivesse um cidadão com arma regular dentro da escola, professor, servente, um policial militar aposentado, ele poderia ter minimizado o tamanho da tragédia”, afirmou.
A indústria da bala deve ter gostado da sugestão. Segundo o MEC, o país tem 182 mil escolas. Em quase metade não há bibliotecas, mas o major entende que a carência mais urgente é de revólveres e pistolas.
O deputado Eduardo Bolsonaro disse que uma arma é “um pedaço de metal, que faz tão mal quanto um carro”. Faltou explicar como os atiradores teriam matado oito inocentes sem a ajuda de um 38.
O senador Flávio Bolsonaro não quis ficar atrás do irmão. Disse que a chacina comprovava “o fracasso do malfadado Estatuto do Desarmamento”. Uma hora antes do massacre, seu pai anunciou que prepara novas medidas para facilitar o porte de armas.
A experiência internacional mostra que há formas diferentes de lidar com as tragédias. Nos EUA, o presidente Barack Obama tentou restringir a venda de armas para combater a epidemia de tiroteios em escolas. O Congresso barrou a iniciativa. No ano passado, já sob o governo de Donald Trump, o país registrou um novo recorde com 97 ocorrências.
No Reino Unido, um massacre que matou 16 crianças na Escócia levou à proibição total da posse de armas em 1997. As estatísticas de mortes violentas despencaram, dentro e fora do ambiente escolar. Em 2018, o país registrou apenas 29 mortes por tiros.
Se quiserem discutir o tema a sério, os parlamentares não precisam buscar lições fora do Brasil. Em janeiro, a professora Marilena Umezu escreveu, numa rede social, que o “porte de livros” era “a melhor arma para salvar o cidadão e a educação”. Ela foi a primeira a ser morta na chacina de quarta-feira.
O Globo