Com mais resultados do que erros e excessos, a operação Lava Jato escreveu seu nome na história do combate à corrupção no Brasil.
Não só mandou para o cárcere figurões, antes inatingíveis – da política à elite empresarial -, como recuperou bilhões desviados pelos esquemas que sangraram os cofres federais. Um tabu quebrado.
A despeito do “êxito”, a força-tarefa chegou a um momento crucial. Vive um paradoxo emblemático. Ultrapassou a linha de um trabalho próprio do Judiciário e passou ao status de movimento. Esse é o lado bom.
Mas tem dois inimigos: o tempo. Nenhuma operação jurídico-policial pode ser um começo sem fim.
E o outro: a nova conjuntura política.
Com o seu maior protagonista fora dela e agora dentro do governo, a “independência” da Lava Jato é um desafio, para dizer o mínimo.
Quem pode garantir que, com Sérgio Moro (seu maior expoente) ministro da Justiça, subordinado a um presidente e, consequentemente, ao seu projeto político, a força-tarefa se preservará imune às interferências superiores?
A dúvida se impõe pelo cenário em que o chefe da Nação e de Moro trata adversários como inimigos a serem extraviados do caminho, e depois que o ex-juiz teve uma simples indicação a um desimportante conselho desautorizada pelo presidente.
A belicosa quadra contemporânea impõe uma vacina e controle externo atento da sociedade para evitar que a Lava Jato vire instrumento para constranger e arruinar opositores e blindar aliados do bolsonarismo.
Aí o trabalho meritório que um dia impulsionou um espontâneo movimento cidadão pode, tragicamente, ser reduzido a um movimento político nas mãos de uns para açoitar outros.
O que levaria a Lava Jato a mudar de lugar e de tamanho na história.