É cedo e arriscado dizer que o presidente da República absorveu lições da série de atritos iniciais da gestão. Observam-se sinais nesse sentido.
Após Jair Bolsonaro ter atuado como líder da oposição à reforma da Previdência, ter enfiado o pé na jaca nos tuítes carnavalescos e ter cometido ato falho sobre o papel dos militares na democracia, nota-se um esforço de correção de rota.
Nunca foram tão frequentes suas manifestações pessoais pela mudança previdenciária. Ter aparecido sob escolta de dois generais na sessão ao vivo da quinta (7) pareceu uma cautela contra a tendência à autoimolação da retórica presidencial.
Na Educação, ensaia-se um expurgo dos meninos que queriam brincar de talibãs com os estudantes brasileiros. Algo parecido ocorrera nas relações exteriores. As que envolvem custos e riscos palpáveis foram logo subtraídas do chanceler viajandão.
Nestes 70 dias, a primeira escolha de Bolsonaro diante de uma crise tem sido a caserna. Se há problema, busca nos militares a solução. Foi reduzida, embora esteja longe de ter sido anulada, a influência da banda lunática, que esperneia.
Essa deve ser apenas uma de várias fases pela qual vai passar o governo ao longo do mandato. A instabilidade e, portanto, o metamorfismo lhe são constitutivos.
A eleição do presidente não se refletiu no Congresso. Sua legenda de ocasião cresceu, mas não ganhou escala nem coesão para organizar maiorias legislativas. Bolsonaro desprezou a lógica da representação parlamentar na confecção do ministério.
Por isso a negociação da reforma previdenciária, que começou para valer, será uma etapa com potencial de transformar mais uma vez a cara do governo. A velha lista de desejos por cargos e verbas dos congressistas já circula no Executivo.
Assessores de um presidente que desqualificou essas barganhas na campanha começam a dizer que há um campo legítimo para elas. E isso é só o princípio.
Folha