Vazio nas Muriçocas, o Folia de Rua no fim da picada – Heron Cid
Opinião

Vazio nas Muriçocas, o Folia de Rua no fim da picada

28 de fevereiro de 2019 às 10h24 Por Heron Cid

Foi uma soma de fatores. Juntos e misturados no liquidificador de desgastes, deu no que deu: o melancólico esvaziamento do desfile das Muriçocas de Miramar, o maior expoente do carnaval da Paraíba.

E não é difícil entender a opção do pessoense, um apaixonado pelo Bloco, de ficar em casa em plena quarta-feira de fogo.

Três dias antes, a cidade assistiu, por imagens nas redes sociais, a um homícidio, com tiros, em plena avenida na passagem do conturbado Bloco Virgens de Tambaú.

Um jovem morto e até agora ninguém preso pelo crime. Brigas de gangues, facadas e ônibus vandalizados. A Polícia fez o que podia, mas não deu conta de evitar o pior.

Esse é um ponto. Não o único, embora um desestímulo para qualquer um folião, em bom juízo, sair de casa e pagar pra ver.

Dois dias antes da apoteose das Muriçocas, um anúncio improvisado. Muda o percurso, altera o formato e passa o recibo: está sem dinheiro e sem patrocínio privado. Só ia sair mesmo pelo incentivo financeiro da Prefeitura, vide a inabilidade da prospecção de recursos externos, um problema que a maioridade do bloco não conseguiu superar.

Horas depois, a mudança do sentido do desfile (praia-centro) fora expressamente vetada pelos órgãos de segurança. Volta ao que era. Daí, diante da inconstância, a descrença e o marasmo já haviam crescido na pauta do noticiário e diminuído a expectativa e tesão do público.

O que se viu na avenida foi o resultado do conjunto da obra. Esse esvaziamento não pode ser debitado tão somente na conta das Muriçocas, a principal atingida, inclusive pelos seus erros. Mas é a festa, como um todo, e órgãos responsáveis, diretos e indiretos, que estão em xeque. As Muriçocas colheram o pior do saldo final.

A verdade é que o Folia de Rua já vem dando sinais de esgarçamento. E não é de hoje. Nos últimos anos, são as exceções de uma ou outra noite que vinham mantendo de pé o evento. No geral, a sensação é de desgaste gradativo.

Por ironia, esse ano, em matéria de notícia positiva, o que salvou uma festa pública e de massa foi o êxito de um bloco privado e estreante (Vumbora). Os antigos e populares deram notório vexame.

Luz amarela acesa e hora de quem interessar possa (Folia de Rua, Blocos, Funjope, PBtur, PM) sentar à mesa, discutir alternativas, antes da extinção completa do movimento que livrava João Pessoa do de passar em branco na época momesca e que deu a cidade um lugar na rota turística de grandes festas.

Com o inusitado fracasso das Muriçocas, o Folia de Rua chegou ao fim da picada.

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