Ministro que pediu foro privilegiado criticava a regalia. Por Bernardo Mello Franco – Heron Cid
Bastidores

Ministro que pediu foro privilegiado criticava a regalia. Por Bernardo Mello Franco

22 de fevereiro de 2019 às 13h00 Por Heron Cid
O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio | Jorge William/28.11.2018

O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, quer suspender o inquérito que apura o laranjal do PSL em Minas Gerais. Ele pediu ao Supremo que leve a investigação do caso para Brasília. Apelou à blindagem do foro privilegiado, velho aliado de políticos em apuros.

A manobra revela que o ministro não se contentou em driblar a Justiça ao declarar gastos com candidatas de fachada. Ele também aplicou um balão nos eleitores mineiros. Pelo menos nos que acreditaram em sua pregação contra o foro.

No ano passado, Álvaro Antônio participou de uma comissão especial da Câmara que discutiu o fim da regalia. Em requerimento apresentado em junho, afirmou que o foro estimulava a impunidade dos poderosos ao contribuir para o “abarrotamento” do Supremo.

“Outro não podia ser o resultado, senão a paralisia institucional que ocasiona a prescrição de inúmeros crimes gravíssimos cometidos por autoridades”, argumentou o deputado, que se licenciou para virar ministro.

No início do texto, Álvaro Antônio escreveu a seguinte frase: “O foro por prerrogativa de função é uma das demandas mais ansiadas pela sociedade brasileira”. Ele queria dizer que a sociedade demandava o fim do foro, mas foi traído por um ato falho. Não é preciso chamar o doutor Freud para entender o deslize.

A extinção do foro foi uma bandeira popular nas eleições de 2018. A “Folha de S.Paulo”, que revelou o laranjal, localizou um santinho em que o ministro atacava a regalia. O lema do panfleto era “Eficiência, ficha limpa e combate à corrupção”. Nas redes sociais, ele usava a hashtag #FederalDoBolsonaro.

Até aqui, o presidente não deu sinais de que demitirá o ministro, que foi indicado pela bancada evangélica. Ontem o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, referiu-se ao laranjal como uma mera “questão lá de financiamento da campanha em Minas”. “A Polícia Federal está ouvindo e o governo observa, o presidente observa. Mas essa história por enquanto não passa de boataria”, desconversou, em entrevista à Rádio Gaúcha.

Enquanto o Planalto faz vista grossa, o ministro continua a usar o cargo para atender sua clientela. Ontem ele recebeu cinco vereadores, dois deputados e um prefeito. Na principal agenda do dia, dedicou-se a um debate sobre cruzeiros marítimos.

O Globo

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