Sob critérios rígidos, sou inclinado à opinião de que o cidadão – devidamente habilitado – tenha a possibilidade de posse, em casa, e tão somente nela, à uma arma de fogo, ferramenta que garante – em tese – exercício de um direito fundamental: ao da legítima defesa. Mas – por formação humana – sou o primeiro a renunciar esse direito.
Porque necessidade de usá-la será sempre para um fim terrível: matar. Ainda que seja para não morrer, essa é uma cena que me causa arrepio e ojeriza.
Também porque não há quem possa se garantir em equilíbrio emocional suficiente para somente sacá-la nos arredores do seu sagrado lar e numa necessidade extrema.
Nunca tive, nunca portei, nunca senti necessidade de comprar, mas tenho para mim que uma arma é uma tentação permanente para quem a possui. Na dúvida e no risco, prefiro distância.
Ainda mais quando somos pegos de súbito com crime como o que abreviou a vida do taxista Paulo Damião, assassinado, dentro do seu carro, seu instrumento de trabalho, após uma provável discussão banal, na última sexta-feira em João Pessoa. Um homícidio perpetrado por um praticante de tiro que se orgulhava de possuir uma arma ao ponto de exibi-la nas redes sociais.
Como não se chocar diante das cenas que ganharam o Brasil afora? Como não se sentir impotente, abalado ou atemorizado, perante o potencial destrutivo de um ser humano em atitude de explosão emocional?
Como não refletir sobre a iminência da flexibilização do acesso a uma arma se tornar uma política pública e uma alternativa de defesa pessoal, em substituição ao papel insubstituível da segurança pública, esta sim responsável por garantir a prevenção, desarmamento ilegal, defesa social e proteção cidadã.
Essa é reflexão que precisa, porém, superar o debate da legalidade do porte e da munição. Tão perigoso quanto o armamento é o seu próprio portador e suas motivações de vida. Com ou sem revólver na cintura, vivemos em uma sociedade ‘armada’ no psicológico, na mente e no coração, pronta para mediar seus conflitos pela força, pelo grito, sem dor e nem piedade.
Desarmar os espíritos nunca foi uma questão tão necessária e de sobrevivência dessa espécie chamada humana. Porque estamos nos matando com palavras, com olhares, com gestos, com omissões e maldades que ferem e assassinam tanto quanto balas de revólveres.