Da primeira vez, ele ainda estava entrincheirado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo para onde seguiu depois saber no início da noite da quarta-feira 5 de abril do ano passado que o juiz Sérgio Moro ordenara sua prisão. Ele deveria se entregar à Polícia Federal até o fim da tarde do dia seguinte.
Entre a quinta-feira e a noite do sábado quando Lula finalmente se entregou, Sigmaringa e outros advogados negociaram com Moro e com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para que a prisão em regime fechado desse lugar à prisão domiciliar. Moro admitiu a hipótese, mas só após o cumprimento de sua ordem.
A negociação esbarrou na recusa de Lula de ficar preso em casa com tornozeleira eletrônica. Ele alegou que aceitar a tornozeleira seria admitir que era culpado no processo do tríplex do Guarujá, e que ele não era. O tríplex jamais fora seu. Sigmaringa foi escolhido por Lula para acompanhá-lo no avião que o levou para Curitiba.
Semanas depois da prisão de Lula, Sigmaringa foi outra vez acionado por pessoas próximas ao ex-presidente para retomar a negociação que poderia lhe devolver a liberdade. Sigmaringa achou que a pessoa indicada para isso seria o ex-presidente do STF, o jurista José Paulo Sepúlveda Pertence, também advogado de Lula.
Pertence e Sigmaringa visitaram Lula no cárcere. Foi a primeira das três visitas que Pertence lhe fez num período de seis meses. Lula estava convencido de que acabaria solto e candidato à sucessão do presidente Michel Temer. Foi contra a retomada de conversas com ministros do STF para que trocasse a cela pela prisão domiciliar.
Um outro visitante ilustre, o ex-presidente uruguaio José Mojica, tentara, em vão, estimular Lula a negociar. “Se você sair daqui e for para casa será melhor para você, sua família e seus amigos”, dissera Mojica. Resposta irritada de Lula: “Você não conhece o Brasil. Se negociar darei a impressão de que reconheço minha culpa”.
No final de julho último, não só Pertence já se desentendera com advogados que cuidavam mais de perto da defesa de Lula, entre eles Cristiane Zanin e Roberto Teixeira, como esbarrara novamente na má vontade de Lula em aceitar as condições possíveis para que fosse mandado para casa. As condições haviam endurecido.
Lula, o PT e Zanin tinham se excedido nos ataques à justiça. Ministros do STF, um deles Dias Toffoli, ainda admitiam tirar Lula de Curitiba, mas desde que ele, com tornozeleira eletrônica, não deixasse seu apartamento em São Bernardo do Campo. Sequer lhe seria permitido, da sacada do apartamento, acenar para ninguém.
Àquela altura, até os filhos de Lula achavam que isso seria melhor do que a vida quase solitária do pai na prisão. Seria melhor para a estabilidade emocional de Lula, mas também para eles. Antes de morrer, Marisa Letícia, mulher de Lula, pedira muitas vezes ao marido para que se afastasse da política e salvasse a família. Em vão.
Pertence falou em abandonar a defesa de Lula, mas não o fez por completo. Retomou o trabalho no seu escritório de advocacia em Brasília. Sigmaringa retraiu-se. Em 25 de dezembro passado, morreu depois de um transplante de medula. Lula quis comparecer ao seu enterro, mas a justiça não consentiu.