O ano é novo (ainda dá pra dizer), mas a cena é velha. Aliás, o Brasil deve ser o metro quadrado no mundo onde as histórias mais se repetem.
Não fosse trágico, o novo ‘desastre’ na Vale seria uma piada. De mau gosto, claro, pela irremediável consequência mortífera para homens, animais e natureza.
Mas esse costume, tipicamente brasileiro, não é fato pontual.
Somos pródigos na matéria de não aprender e nem muito menos evitar novos erros.
Exemplo: enquanto o Brasil fitava olhos vidrados no noticiário por ocasião do escandaloso Mensalão, as autoridades, sociedade e órgãos de controle externo eram incapazes de prevenir há tempo um desastroso Petrolão.
Brumadinho é mais ou menos isso.
Mariana e suas histórias de dor, sofrimento e desequilíbrio ficaram para trás. A comoção popular e as providências de praxe só duram o tempo da anestesia. Sempre estamos prontos para mais um abalo, quase nunca para identificar os riscos e barrar a concretização.
Na maioria, órgãos de fiscalização apenas cumprem protocolos. Quando cumprem. Relatórios são ignorados e arquivados até a próxima hecatombe.
Lá estão os mesmos pedidos de desculpas, indenizações e multas que, na prática, nada reparam e nem muito menos restauram vidas arrasadas. Dos que vão e dos que ficam.
Ou, no mundo político, as mesmas teses conspiratórias, o jogo do poder, a transferência de responsabilidade e o cinismo em discursos inflamados para plateias bovinas.
Tragicamente, a lama ganhou espaço representantivo em nossa quadra histórica. No meio ambiente e na política. Em suas duas formas, ela nunca matou tanto. Gente e esperança.