Quando fiz uma crônica sobre Anitta há algum tempo, recebi várias mensagens indignadas, “Te acompanho há 40 anos mas agora parei”, “Que decepção! Você se vendeu ao sistema”, “Traidor da música brasileira”, e outros impropérios de quem se sentiu pessoalmente ofendido, mais até do que com minhas eventuais posições políticas.
Mesmo na era do preconceito, da intolerância e da estupidez, é espantoso. Cada um tem seu gosto e opinião, mas se ofender pela constatação de que Anitta é a artista brasileira de maior sucesso internacional de nossa história, que tem zilhões de visualizações e plays de seus áudios e vídeos como nenhum brasileiro, que fala inglês e espanhol fluentes e integra o primeiro time do pop latino, que tem só 25 anos e ela mesma administra sua carreira.
Se é isso que desperta tanto rancor e ressentimento, então Tom Jobim tinha razão quando dizia que no Brasil sucesso é ofensa pessoal.
Você pode não gostar de sua voz, de seu estilo, de seu repertório, de sua cara, de seu corpo, mas não pode ignorar a sua dura e penosa, mas determinada, história de vida. De Honório Gurgel para o Royal Albert Hall.
Pobre, baixinha e com uma voz pequena, mas com grande talento, inteligência e determinação, aprendeu nos bailes da vida desde a adolescência. Se transformou completamente da cabeça aos pés para ficar exatamente como queria. Como um cartoon, um emoji, uma animação, um ícone pop. Com sua graça, seu sex appeal e sua ousadia, virou um símbolo sexual internacional. Com sua versatilidade, faz sucesso cantando funk, reggaeton, bossa nova, sertanejo, samba, ampliando cada vez mais seu público, mas sempre com seu estilo.
Anitta de Carmen Miranda Dolce e Gabbana levando ao delírio 200 mil pessoas no Rock in Rio Lisboa é uma imagem inesquecível e tão emocionante quanto ela cantando “Sandália de prata” com Gil e Caetano na abertura das Olimpíadas. Seu dueto cool com Silva em “Fica tudo bem” foi das melhores do ano.
Feliz Ano Novo, nem digo com amor, mas com respeito e tolerância.
O Globo