“Meus detratores me chamam de louco por acreditar em Deus e nos atos de Deus na História, mas eu não ligo”. Quem escreve essa preciosidade é Ernesto Araújo, que assume o Ministério das Relações Exteriores no dia 1º de janeiro. O desavisado pode ser levado a acreditar que o exotismo de Araújo está em sua crença e que é ele o formulador original da Divina Providência. A frase está num artigo de três páginas — seguem neste post — da edição de janeiro da revista norte-americana “The New Criterion”, que reúne prosélitos de direita. De saída, noto: ele faz justiça à Lava Jato, que ele transformou em “Operation Car Wash”.
Convenham. Ninguém o acharia louco por tão pouco. No artigo intitulado “Trump e o Ocidente”, publicado na revista “Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais”, órgão vinculado ao Itamaraty, Araújo foi mais preciso sobre esse seu Deus — quer dizer, não exatamente dele. Escreveu:
“Esse Deus pelo qual os ocidentais anseiam ou deveriam ansiar, o Deus de Trump (quem alguma vez imaginou que leria essas palavras, ‘O Deus de Trump’?) não é o Deus-consciência-cósmica, ainda vagamente admitido em alguns rincões da cultura dominante. Nada disso. É o Deus que age na história, transcendente e imanente ao mesmo tempo”.
No artigo da “New Criterion”, Araújo escreve a palavra “Deus” 12 vezes. Nem as encíclicas papais são tão prodigas. Afirma sobre a eleição de Bolsonaro: “Deus está de volta, e a nação está de volta: uma nação com Deus”. Segundo o futuro chanceler, quais foram os fatores que operaram para quebrar o sistema marxista que vigia no Brasil? A Santíssima Trindade desse novo momento atende pelos nomes de “Bolsonaro” — claro! —, “Olavo de Carvalho” e “Operation Car Wash”. Leiam o texto. Deve ser a única coisa sensata em seu artigo. De fato, o governo que começa no dia 1º deve à “Car Wash” a destruição da política. Este escrevinhador, convenham, sempre advertiu para tal evidência e para as consequências nefastas que daí adviriam.
Araújo não economiza. O governo marxista do PT teria levado adiante “a promoção da ideologia de gênero, o estímulo artificial das tensões raciais, a troca dos pais pelo governo como provedor de valores para as crianças, a humilhação dos cristãos”. Vocês entenderam direito. O homem que vai assumir o Itamaraty acredita que os cristãos estão sendo humilhados no Brasil. E como o futuro chanceler avalia o trabalho do Ministério das Relações Exteriores? Segundo ele, a política externa “auxiliou na transferência de poder dos Estados Unidos para a China; favoreceu o Irã; trabalhou incansavelmente para criar uma nova cortina de ferro socialista sobre a América Latina”. Para lembrar: dos US$ 67 bilhões de superávit da balança comercial brasileira no ano passado, US$ 20 bilhões vieram das trocas com a China. O saldo positivo com o Irã neste ano se aproxima de US$ 5 bilhões. Tudo o que os chineses compram do Brasil pode ser comprado de outros países. O mesmo vale para o Irã.
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