Padilha, Moreira, Elsinho e até mesmo Michelzinho: perdoem se pareço oportunista ou intruso. Mas não vou deixar para vocês o último elogio contundente ao estupendo presidente Michel Temer. Vocês tiveram sua chance de praticarem este deplorável papel de áulico publicamente, mas declinaram.
Provavelmente por decoro e aguçada autocrítica. Pois não é o meu caso. Se já houve um dia a “velhinha de Passo Fundo”, a Salomé, aquela senhorinha imaginaria que só via virtudes no odiado ex-presidente João Figueiredo, acho que a vida me tornou a velhinha do “Alto de Pinheiros”, onde mora o cidadão Temer em São Paulo.
Não vou desperdiçar a chance de soltar o verbo e bradar um elogio desassombrado a Michel Miguel Elias Temer Lulia. Talvez sua derradeira aclamação pública com a faixa presidencial.
Primeiro, essa transição de governo para o presidente Bolsonaro, se fosse escrita como fórmula da física, seria algo assim: e=mc2. Temer aplicou a lei da relatividade e a física quântica da política, retorcendo as dobras do universo e o promovendo encontro das paralelas, no lance final de seu governo.
Falta só condecorar Sérgio Moro. Só não o faz para não tripudiar. O presidente é comedido. Mas conduzir uma transição pacífica e colaborativa, a essa altura do campeonato, é encontrar espaço na pequena área cheia e balançar a rede. Coisa de craque.
Ainda bem que serei preservado do constrangimento do convite quando, já ex-presidente, Temer desembarcar pela última vez na base aérea de Congonhas –vazia. Senão iria me ouvir gritando, solitário: “mito, mito, mito”!
O presidente Michel Temer, claro, ainda corre todos os riscos. É um alvo e tanto para saciar pulsões pervertidas que enxerguem num eventual martírio seu algum ganho político de curto prazo. Mas já vou logo avisando a esses pescadores: ele é uma mistura de marlim com lambari. Não é só ensaboado.
Vai ser preciso muito carretel e, qualquer vacilo, a linha corta. O fato é que Michel Temer é um ninja da politica. Chegou à presidência pelo caminho mais complexo numa democracia: sem o voto popular, mas sem o passamento do titular (como Sarney). E isso não o desmerece. Só qualifica suas bruxarias como político. Sobretudo porque não apenas chegou. Permaneceu. O que é notável, com ou sem voto.
E não permaneceu em tempos de calmaria. Foi alvo de dois pedidos de impeachment (com outro nome, na esteira da confusão dos “pedidos para investigar” do ex-procurador Rodrigo Janot). Matou no peito. Teve a grande imprensa contra, milhares de horas negativas em todos os telejornais. Mas não fraquejou.
Montou uma base de apoio que, com todo o respeito à finada Arena (Aliança Renovadora Nacional), poderia ser considerada o maior partido do ocidente. Mas ele nunca ressaltou isso. Não é de tripudiar. É comedido.
O presidente pegou um país em frangalhos e, queiram ou não, gostem ou não dele, conduziu o barco e a sensação geral é de que está balançando menos. Foi o mar que melhorou? No mínimo o comandante tem sorte.
E na política… Michel pintou e bordou. A começar pela mais es-pan-to-sa constatação de sua gestão. Rufem os tambores, ergam os tomates e, agora, respondam: qual foi o escândalo de corrupção do governo Michel Temer? Sim, do go-ver-no? Não vale escândalo requentado de Porto de Santos, gravação da garagem do Alvorada que constrange mas não revela nenhum ato de corrupção direta do presidente.
Diga aí? Aí é que está: não teve nenhum Mensalão, Petrolão ou coisa do gênero no governo Temer. Acusações contra ele e seus próceres, toneladas. Mas escândalo, daqueles de pegar o governo no contrapé e arrebentar, incrivelmente, não se viu. Isso prova que Michel é santo? Vixe! Mas ele nem fala essas coisas. Ele não é de tripudiar. É comedido.
Poder 360