A quantidade de gente que bloqueei no Facebook desde 2009, quando abri conta, dava uma pequena aldeia. Da última vez que contei estava perto dos cinco mil, e isso foi antes do impeachment. É difícil contar. O Facebook não fornece ferramentas. Mentor Neto, grande amigo e bloqueador feroz (há um grupo chamado “Fui bloqueado pelo Mentor Neto”), desenvolveu uma técnica usando Excel, mas como não domino o Excel, nunca mais soube ao certo.
Durante muitos anos, ainda no princípio da era dos blogs, na virada do milênio, me debati com dúvidas sobre bloquear ou não bloquear. As redes sociais ainda engatinhavam, e estávamos pensando, coletivamente, como seria esse mundo conectado. Muitas pessoas achavam que bloquear era falta de “espírito democrático” e, num primeiro momento, eu também pensei assim.
É fácil ter “espírito democrático” numa conta incipiente, com meia dúzia de seguidores, todos mais ou menos do mesmo estrato social. A coisa muda quando este número aumenta e começa a chegar gente de todo canto. Com o tempo, me convenci de que democracia, na rede, significa cada um escrever o que bem entende… na sua própria página. O resto é saúde pública.
Não bloqueio ninguém por discordar de mim: opiniões diferentes são mais do que necessárias para quem não quer viver com antolhos. Bloqueio essencialmente quando me ofendem e, sobretudo, quando ofendem outros comentaristas. Manter a discussão dentro de um nível de civilidade razoável é a única maneira de manter uma página saudável.
Até essas eleições, eu bloqueava sobretudo à esquerda. Bastava a mínima crítica a alguma vaca sagrada do PT e pronto, lá vinham enxames de militantes vomitando e atirando pedras. Ninguém defendia nenhum dos outros políticos, portanto reinava a paz, ou quase isso, nos demais quadrantes.
A grande novidade do ano foram os militantes do Bolsonaro, que agem exatamente como petistas: se ofendem com qualquer coisa, vêm em bandos e xingam todo mundo com extrema agressividade. Por onde eles passam não cresce a grama.
Para além dessa militância, porém, começa a surgir uma outra espécie, a dos cidadãos que precisam justificar o seu voto, e se recusam a aceitar o fato de que “o mito” não passa, afinal, de um típico representante do baixo clero.
“Onde estava o Coaf durante o mensalão?” é o novo “E o Aécio?” das redes sociais.
As caixas de comentários andam difíceis de administrar. Espero que tenham um efeito didático, e que a esquerda perceba como são ridículas as suas desculpas, agora que elas vêm da direita.
Espero também que a direita não demore a perceber o que realmente significa a expressão “não temos bandidos de estimação”.
O Globo