Uri Ariel, ministro israelense da Agricultura, não é nenhum cara de esquerda –seu partido é o Lar Judaico, que fica à direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Por isso foi uma surpresa ouvi-lo contar entusiasmado que o Knesset, o parlamento de Israel, deve aprovar a exportação de maconha medicinal.
“O Brasil com certeza poderia fazer a mesma coisa”, disse ele na semana passada em conversa com um grupo de jornalistas brasileiros num moshav (cooperativa rural) nas Colinas de Golã, norte do país. “Não há motivo para proibir um remédio único para aliviar a dor de pessoas que estão sofrendo.”
Desde os anos 1990, israelenses com esclerose múltipla, câncer e outras doenças podem utilizar maconha medicinal. O Exército (por lá, uma instituição bem mais à esquerda que no Brasil) estuda o uso do THC contra estresse pós-traumático. O uso recreativo não é totalmente legal; mesmo assim o país é o que mais fuma maconha no mundo. Segundo uma pesquisa do governo, 27% dos israelenses entre 18 e 65 anos afirmam consumir a erva. A República Tcheca, em segundo lugar, vem bem abaixo, com 11%.
Apesar de todo esse consumo, a demanda se limitava à população do país, de 8,7 milhões de habitantes. Mas, desde o ano passado, empresas têm ganhado autorização para exportar a droga. Nas próximas semanas os parlamentares israelenses devem dar a aprovação formal à atividade, aumentando ainda mais o potencial do mercado.
O apoio do governo tem criado uma febre de investimentos e startups relacionadas à planta. A empresa Leaf vende uma estufa, do tamanho de uma geladeira em estilo Apple, que ilumina, irriga e aduba automaticamente um pé de maconha. Já o GemmaCert analisa em trinta segundos a quantidade de THC e canabidiol de uma amostra.
O Brasil está bobeando por ainda não ter entrado nesse mercado. Por causa do frio durante o inverno, a maconha de Israel é plantada em estufas, o que não seria necessário por aqui. Enquanto todo o território israelense é menor que o de Sergipe, o menor estado brasileiro, o Brasil tem um enorme sertão com sol, calor e pouca água –quase todo o necessário para o cultivo de maconha.
Nordestinos conhecem muito bem esse potencial. Só em novembro, a Polícia Federal destruiu uma plantação com 125 mil pés de maconha no interior de Pernambuco –e operações como essa acontecem quase todo mês. Veja que situação curiosa: a região mais pobre do Brasil quer se desenvolver, mas a lei impede.
É como dizia o político americano Harry Browne: “O governo quebra as suas pernas apenas para depois lhe dar uma muleta e dizer “veja, se não fosse pelo governo, você não seria capaz de andar”. Permitir o cultivo e a exportação de maconha medicinal daria uma chance aos sertanejos nordestinos de enriquecerem com o agronegócio e de andarem com as próprias pernas.
Bolsonaro prometeu mudar a embaixada brasileira para Jerusalém e quer se aproximar de Israel na economia e por meio de parcerias tecnológicas. Bem que poderia se inspirar também na postura mais moderada dos israelenses em relação à maconha.
Folha