“O Brasil acordou perplexo com as mais graves denúncias de corrupção da nossa história recente”. Às vésperas da eleição de 2014, Aécio Neves comentava o depoimento de Paulo Roberto Costa à Lava-Jato. Para o tucano, a delação do ex-diretor da Petrobras valia como prova cabal contra a adversária.
“As denúncias do senhor Paulo Roberto mostram que a Petrobras vem sendo assaltada ao longo dos últimos anos por um grupo político, comandado pelo PT, com o objetivo de perpetuar-se no poder”, sentenciou, no dia seguinte.
Os petistas ficaram furiosos. Rui Falcão acusou o rival de “agressão rasteira” e tentou desqualificar o delator. “Aécio faz coro a denúncias sem provas veiculadas pela imprensa a partir de um processo de delação premiada, que, em si, já carrega toda a suspeição comum a esses procedimentos”, afirmou.
A vitória de Dilma Rousseff não interrompeu o bate-boca. Em dezembro de 2014, o PSDB pediu à Justiça Eleitoral para cassar a chapa petista e entregar a faixa presidencial a Aécio. O principal argumento do partido era a palavra de Paulo Roberto.
“A campanha eleitoral de 2010 da requerida Dilma Rousseff foi financiada, em parte, por dinheiro oriundo da corrupção da Petrobras. Esta afirmação foi feita peremptoriamente por Paulo Roberto Costa em depoimento prestado à Justiça Federal”, afirmaram os seis advogados do PSDB.
O tempo passou, Dilma foi derrubada e Aécio entrou na mira da Lava-Jato. Nesta terça, a PF fez buscas em dois apartamentos do tucano. Seria exagero dizer que “o Brasil acordou perplexo”, já que não é a primeira vez que ele recebe a visita da polícia. Desta vez, é suspeito de receber R$ 128 milhões da JBS.
Ao passar de acusador a acusado, Aécio decidiu reciclar o discurso do PT. “O que existe hoje é um roteiro assinado, comandado e coordenado pelo senhor Joesley Batista”, lamuriou-se ontem, da tribuna do Senado. Ele também acusou o delator de mentir à Justiça para se livrar da cadeia. “Repilo as acusações infames de que tenho sido vítima”, arrematou.
O Globo