Em apenas um ano, aumentou em dois milhões o número de brasileiros na pobreza. Em 2016, 52,8 milhões viviam com até US$ 5,50 por dia. Em 2017, o grupo cresceu para 54,8 milhões, o equivalente a 26,5% da população. São três Chiles ou cinco Portugais abaixo da linha da pobreza, de acordo com os critérios do Banco Mundial.
Os dados estão da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo IBGE. A pesquisa mostra que o fim da recessão e o crescimento de 1% do PIB não foram suficientes para aliviar a vida dos mais pobres. O trem da economia voltou a se mover lentamente, mas os passageiros dos últimos vagões ficaram para trás.
A pobreza extrema também cresceu. O número de pessoas com renda inferior a US$ 1,90 por dia subiu de 13,5 milhões para 15,2 milhões (7,4% da população). Pelo câmbio atual, esses brasileiros sobrevivem com um orçamento diário de pouco mais de R$ 7. Em alguns restaurantes da zona sul do Rio, o valor é insuficiente para comprar uma lata de Coca-Cola.
O IBGE deu algumas pistas para entender o retrocesso. Apesar do começo da retomada, o desemprego e a informalidade continuaram a crescer em 2017. O percentual de trabalhadores sem registro saltou de 39% para 40,8%. Na região Norte, chegou a 59,5%.
O economista Marcelo Neri, da FGV Social, chama a atenção para outro problema: a renda do Bolsa Família caiu 4,2%. Ele diz que o impacto de cada real investido no programa é três vezes maior que o da mesma quantia gasta na Previdência. “Estamos esquecendo uma lição básica: o país precisa reforçar a sua rede de proteção social”, afirma.
Para o professor, o aumento de 13% na extrema pobreza poderia ter sido evitado. “É importante passar um pente fino no cadastro do Bolsa Família, mas ele não poderia ser reduzido num cenário de crise. É um programa barato, que custa 0,5% do PIB”, afirma.
Na semana passada, um estudo da Oxfam mostrou que a vida não ficou mais difícil para todos os brasileiros em 2017. Enquanto a renda dos 10% mais pobres caiu 9%, os ganhos dos 10% mais ricos subiram 2%.
O Globo