Em eleição, há vitórias que representam derrota e insucessos com ares de êxito. Depende de caso a caso.
No pleito da OAB, registrado ontem, Paulo Maia (48,3%), presidente reeleito, confirmou sua liderança pessoal no seio da advocacia paraibana e saiu de uma vitória representativa.
Elástico, o triunfo eleitoral do professor não deixou margem para dúvidas: os advogados apoiaram o atual modelo de gestão, desatado de amarras a grupos políticos e alinhado com os problemas práticos da ponta, aqueles que afligem, especialmente, o profissional que não lidera as grifes jurídicas do Estado, esmagadora maioria do mercado.
Maia também soube agir com paciência monástica na costura de sua chapa. Jogou iscas, esperou, retirou o anzol e, ao final, montou uma chapa que não lhe deixou refém de seu ninguém, certamente vacinado da experiência da dissidência do grupo que o ajudou a eleger logo no embrião da gestão.
Na campanha, aproveitou bem os erros e exageros da dose dos adversários. Sem esforço, foi vitimizado dos pesados bombardeios.
Contou, claro, com muitos apoios, mas o saldo final do resultado deve ser creditado na sua conta pessoal. A vitória confirma o que já se sentia; a consolidação de sua liderança perante seus pares.
Se souber administrar bem e com racionalidade o patrimônio eleitoral herdado desse pleito, tem todas as chances de pavimentar o caminho de um sucessor. Vai depender dos seus passos e da correção de algumas rotas.
Carlos Fábio (33,52%) deu sua carga máxima. No curso da campanha, demonstrou conhecimento macro da Ordem, entretanto, a argamassa de quase dois anos de articulação não fora suficiente para convencer a advocacia da necessidade de mudança naquilo que ele mesmo ajudou a construir. Pagou certo preço dessa contradição e também de desgastes que nem lhe pertenciam.
Muito provavelmente não deverá ser mais candidato. Não por falta de PIB político. É decisão de cunho pessoal. Resta saber se conseguirá repassar para alguém de confiança a inteireza do seu espólio.
Sheyner Asfóra (18,3%) superou expectativas (adversários projetavam que ele não passava de 10%) e está no seleto time daqueles que podem tirar o leite de pedra. Sem dúvidas, o jovem advogado saiu maior de quando entrou, de última hora sem obrigação de ganhar, numa disputa programada para ser restrita a uma polarização do racha do grupo vencedor da eleição anterior.
Um lance de ousadia e coragem. Pelo seu desempenho final de quase 20% dos votos (foi muito para tão pouco tempo), agora se sabe o que só ele enxergava: havia uma parcela insatisfeita com a atual gestão, sem que necessariamente se sentisse representada por Carlos Fábio. Foi esse espaço que ele ocupou e tende a perseguir.
Com a iminente saída de Carlos do caminho, muito provavelmente Asfóra tem tudo para catalisar o sentimento de oposição. O tom que adotará para se perfilar no contraponto a Paulo Maia será decisivo para o êxito, ou não.
O que fica é que Sheyner criou sua liderança própria e inevitavelmente a próxima sucessão passa por ele. Para seu grupo, uma derrota política. Para ele, há um sabor de vitória particular. Plantou uma semente com potencial de gerar frutos.