Jair Bolsonaro transformou a articulação política do seu governo num bicho de sete cabeças. Onyx Lorezoni vai coordenar. Mas o general Carlos Santos Cruz também fará contato com parlamentares. Sem prejuízo de que os outros dois ministros palacianos, Gustavo Bebianno e o general Augusto Heleno, como membros do “time”, disse Bolsonaro, ajudem a “jogar para a frente” as relações com o Parlamento. Além das cabeças ministeriais, Onyx deve recrutar uns três ex-parlamentares para reforçar a articulação.
Negociações políticas costumam ser movimentadas. Nas mais intrincadas, a movimentação pode se arrastar por semanas. Ou meses. Mas chega uma hora em que a articulação, para ser bem sucedida, precisa seguir a lógica da fotografia: se mexe muito não sai. A pergunta é: como impedir que o bicho de sete cabeças se devore antes da foto? Bolsonaro chama a barafunda que se arma no Planalto de articulação “compartilhada”.
Dizer que esse arranjo é um prenúncio de crise é muito pouco para traduzir o que ocorre. Crises fazem parte da rotina de qualquer governo. O que distingue Bolsonaro nessa matéria é sua capacidade de magnificar a confusão política antes de enxergar o problema. O novo presidente diz que não negocia com partidos, só com bancadas temáticas. Bancadas, como os partidos, são feitas de parlamentares. No Planalto, mandará Bolsonaro. No Congresso, manda quem tem maioria.
Com uma única voz, firme e sensata, seria difícil compor maiorias em torno das reformas polêmicas que estão por vir. Com sete bocas a articulação do governo soará como uma babel. Na primeira derrota, o bicho de sete cabeças entrará em parafuso. Uma cabeça culpará a outra. E o governo, em vez de se entender com o Legislativo, logo estará brigando consigo mesmo.
UOL