John Caulfield e Darnall Steuart foram almoçar, depois de transmitir a mensagem a Washington. “Confidencial”, alertavam no texto (09CARACAS918_a) enviado às 13h14m daquela segunda-feira 20 de julho de 2009. Contaram como o vice-presidente da Venezuela, Diosdado Cabello, estava “expandindo sua rede de corrupção para o setor financeiro”.
Cabello é “perigoso” e o mais influente no governo Hugo Chávez, escreveram. Detalharam sua parceria com o chefe do Tesouro, Alejandro Andrade, na “compra de vários pequenos bancos e companhias de seguros” para lavar o dinheiro de propinas.
Nove anos depois, Caulfield está aposentado em Nova York. Steuart comanda o setor de Sanções Políticas em Washington. E Alejandro Andrade, o ex-chefe do Tesouro descrito na mensagem de 2009, vai amanhã a um tribunal da Flórida para ouvir sua condenação a dez anos de cadeia.
Andrade é réu e delator num processo de corrupção e lavagem de dinheiro roubado da Venezuela cuja dimensão supera o caso Odebrecht, revelado em 2016. Ele confessou ter recebido US$ 1 bilhão (R$ 4 bilhões) em propinas. O valor é 27% maior do que o total de subornos pagos pela Odebrecht em 12 países.
Andrade comandava apenas um segmento da fraude, usando um banco na República Dominicana, comprado pelo aliado chavista Raúl Gorrín, dono da TV Globovisión.
O barril de petróleo a US$ 110 embalava delírios de Chávez. Com aval de Lula, ele deu à Odebrecht US$ 20 bilhões (R$ 80 bilhões) em obras, financiadas pelo BNDES. O chefe local da empreiteira, Euzenando Azevedo, confessou subornos milionários a agentes governamentais.
A tesouraria da cleptocracia chavista começou a ser desvelada em tribunais. A escala do roubo explica, em parte, a atual catástrofe humanitária.
Agora tenta-se impedir que o regime chavista perdure além de janeiro, quando completa 20 anos. Esse é o tema da reunião prevista para amanhã, no Rio, entre o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, e o presidente eleito Jair Bolsonaro.
O Globo