O futuro ministro Ricardo Vélez Rodríguez estreará na pasta da Educação mal conectado à massa de conhecimentos empíricos que se consolidou nas últimas décadas acerca dos principais problemas do ensino básico brasileiro e das terapias para enfrentá-los.
Poderá aproximar-se dela agora. Recursos intelectuais não lhe faltam, a julgar por um de seus trabalhos, “Castilhismo: uma Filosofia da República”. É uma boa resenha crítica sobre uma linhagem do autoritarismo nacional parida no Rio Grande do Sul no fim do século 19, batizada em alusão ao precursor Júlio de Castilhos (1860-1903).
O líder republicano gaúcho, formado em direito em São Paulo, fundou uma das mais influentes tradições políticas brasileiras. Repaginou o velho caudilhismo hispânico com a dicção do então emergente positivismo do francês Auguste Comte.
Castilhos divergiu dos positivistas moderados ao defender a tutela do Estado, encarnado num líder visionário, sobre o indivíduo para assegurar o progresso social. O sistema representativo e o Parlamento, os quais identificava ao regime imperial, eram seus alvos diletos.
Derrotado na primeira constituinte nacional da República, Castilhos fixou seus preceitos cesaristas na Carta estadual gaúcha de 1891. Lá esmagou a oposição à base de força e fraude e iniciou uma corrente despótica seguida pelo governador Borges de Medeiros, pelo senador Pinheiro Machado e pelo ditador Getúlio Vargas, a estrela da turma.
No livro, Vélez se mostra um adepto do liberalismo clássico de John Locke e Alexis de Tocqueville a criticar os descaminhos autoritários percorridos por um ramo do pensamento e da prática política no Brasil. Homenageia a democracia representativa, o papel do Legislativo, a separação dos Poderes e as amplas liberdades civis.
Não seria sem custo reputacional, portanto, que enveredaria por aventuras censoras preconizadas pelos fanáticos da “escola sem partido”.
Folha