Jair Bolsonaro conseguiu o que parecia impossível: transformou Rodrigo Maia num deputado com viés de oposição. Três lances do futuro presidente da República deram conteúdo oposicionista ao projeto de Maia de se reeleger presidente da Câmara em fevereiro:
1) Num lance, Bolsonaro declarou publicamente que há outros bons candidatos à presidência da Câmara. Com isso, empurrou Rodrigo Maia para um voo solo.
2) Noutro lance, Bolsonaro alijou os partidos da composição do seu ministério. Em movimentos simultâneos, as legendas do centrão e os partidos adjacentes tomaram ojeriza por “outros candidatos”, renovando seus acertos políticos com Rodrigo Maia.
3) Num terceiro lance, o capitão ouviu em silêncio o filho Eduardo Bolsonaro, o “Zero Três”, declarar que o próximo presidente da Câmara precisa ter “um perfil-trator”, para patrolar a esquerda no plenário. Súbito, começaram a cair no colo de Rodrigo Maia votos do PCdoB, do PSB e até do PT.
Os acertos de Maia para fechar um bloco suprapartidário de apoiadores envolvem quatro tipos de compromisso: respeito à minoria nas atividades legislativas, pluralidade na designação de relatores de medidas provisórias, equidade na composição das comissões da Câmara e independência em relação ao Planalto.
Se prevalecer na disputa, o que não é improvável, Rodrigo Maia permanecerá no trono da Câmara sem dever nada ao futuro inquilino do Planalto. Não tendo vocação para Eduardo Cunha, é improvável que o deputado do DEM toque fogo no circo. Mas o governo Bolsonaro não terá vida fácil.
O capitão e seus apologistas ainda não notaram, mas há digitais de Rodrigo Maia nas manobras que retardam a tramitação do projeto da Escola sem Partido.
UOL