Os militares avançam em direção ao núcleo do poder quando a coesão da elite política civil se esgarça. Na disputa por território no Planalto, os generais estão batendo em retirada.
No organograma do Palácio, cargos chave estão sendo destinados aos aliados sem farda do presidente eleito Jair Bolsonaro. Num primeiro momento, a eleição do capitão reformado abriu um cabeça de ponte para generais da reserva na Presidência da República.
A transição colocou militares estrelados, que até há pouco manobravam carrinhos de supermercado na aposentadoria, diante de um teatro de operações que eles supunham esterilizados da política. Despreparados para enfrentar um poder civil unido na disputa por cargos, viram minados espaços considerados estratégicos.
As armas aí são outras. É uma lei universal dos países democráticos que testemunham o vaivém de militares entre os quartéis e o Executivo. Em seu “A Elite do Poder”, Wright Mills diz que “no mundo político civil o general perde seus objetivos e, devido à falta de tirocínio, se enfraquece”. Falta-lhes a manha. O grupo militar está em retirada —física (alguns foram rifados) e simbólica (com o esvaziamento de funções ambicionadas).
Não é de todo mal uma eventual reconfiguração de forças no Planalto. Os militares queriam, por exemplo, a gestão do Programa de Parceria de Investimentos. Trata-se de área onde o DNA do Exército faria mais mal do que bem. Generais possuem aversão ao capital estrangeiro em certos setores da economia.
A história militar brasileira registra grandes recuos. A “Retirada da Laguna”, quando tropas nacionais escaparam do Paraguai no século 19, é mais lida pelo oficialato na caserna do que a saga dos pracinhas em Monte Castello, na Segunda Guerra.
Uma retirada não é desonrosa. Pode ser estratégica, envolver uma logística complicada e heroísmo. E mais importante: um movimento que precede uma retomada.