Depois de amargar 13 anos na oposição, o DEM retomou a vocação governista com Michel Temer. Mas é pelas mãos de Jair Bolsonaro que o partido voltará ao coração do poder.
Na gestão que termina, o antigo PFL comandou a pasta da Educação. Na que começa, terá três ministérios para chamar de seus. Até a semana passada, a sigla já havia garantido a Casa Civil e a Agricultura. Agora ampliou seus domínios para a Saúde, com a escolha do deputado Luiz Henrique Mandetta.
O partido não ocupava tanto espaço na Esplanada desde 2001, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso rompeu a aliança com Antonio Carlos Magalhães. No ano seguinte, Lula se elegeu e a legenda passou a definhar. Sua bancada federal despencou de 105 deputados eleitos em 1998 para apenas 21 em 2014.
Nem a mudança de nome foi capaz de interromper a queda. A sigla continuou a encolher nas urnas e viu seu único governador ser preso por corrupção, num escândalo que ficou conhecido como “mensalão do DEM”. Sem acesso ao Diário Oficial, o partido chegou perto de desaparecer. Até que foi salvo pelo impeachment.
O presidente da legenda, ACM Neto, diz que os três novos ministros foram escolhas pessoais de Bolsonaro. “São bons nomes, mas não são indicações partidárias”, afirma. Ele reconhece, no entanto, que as nomeações já causam ciúmes em outros partidos. “O DEM não pode ser penalizado porque tem bons quadros”, argumenta.
A primeira vítima de retaliação pode ser Rodrigo Maia, que tentará se reeleger na presidência da Câmara. Deputados de siglas como PP, PR e PSD já ameaçam boicotá-lo em fevereiro. Naturalmente, podem mudar de ideia se saciarem o apetite por cargos no novo governo.
O problema é que Bolsonaro não dá pistas do que fará com os ministérios que ainda estão sem dono. Na dúvida, parlamentares que apoiaram outros candidatos ao Planalto têm se revezado na tribuna para cortejá-lo. “Os primeiros passos que o presidente eleito toma são extremamente assertivos, corretos e não só bem-intencionados, mas também numa visão de estadista”, desmanchava-se ontem o deputado Domingos Sávio, do PSDB.
O Globo