O jornalista Zuenir Ventura publicou em 1989 um livro clássico que ajuda a entender a nossa história recente. Na obra, Ventura traz uma rede de acontecimentos marcantes no Brasil e no mundo, fatos que, especialmente no contexto político, ainda ressoam. O livro é “1968, o Ano que não terminou”.
Pesquisadores e estudiosos podem se preparar e aquecer as canetas. Há muito trabalho pelo caminho depois da eleição de 2018, provavelmente um divisor de águas e inauguração de um novo ciclo no Brasil. É verdade, ainda não se sabe qual…
Sabe-se, porém, que esse processo não findou em 28 de outubro, segundo turno, quando milhões foram às urnas e decidiram entre Fernando Haddad, o representante do projeto de esquerda e seus 13 anos de governo, e Bolsonaro, o eleito com discurso oposto e porta-voz da direita brasileira.
Horas depois da vitória do capitão reformado do Exército, o relógio nem badalou meia noite para virar o dia e as redes sociais já estavam estampadas de palavras de ordem e hastags. ‘Resistência’ e ‘ninguém solta a mão de ninguém’ são exemplos. O “Ele não” continuou mesmo diante da maioria sufragando “Ele sim”.
O confronto, portanto, persiste e está semeado dos dois lados.
Enquanto intelectuais de esquerdas insistem na narrativa segundo a qual o Brasil elegeu um “neofacista”, consequência do “golpe”, e que estamos a um palmo de um “regime de exceção, Bolsonaro vai fazendo sua “limpeza ideológica”, da política do Itamaraty, querendo trocar embaixada em Israel, até à Saúde, com o fim do MaisMédicos, rompendo de vez relações com a Ditadura de Cuba, bem contemplada pelos camaradas governos petistas.
O debate em torno do “Escola Sem Partido” versus “Escola com Militância” e os radicalismos, de parte à parte, são mais pólvora na extensão do fogo da eleição que promete ser muito mais longeva do que se calculava.
Cinquenta anos depois, o terreno volta a ser fértil para quem quiser, assim como Zuenir, escrever sobre um ano emblemático. O título já está pronto: 2018, a eleição que não terminou. Pelo menos, para alguns…