Dita em 1998 por Ricardo Sérgio, diretor do Banco do Brasil, em resposta a Luis Carlos Mendonça de Barros, ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso, a frase tornou-se rapidamente famosa: “Chegamos ao limite da nossa irresponsabilidade”. Os dois conversavam sobre o uso de dinheiro público para privatizar a Telebrás.
Faltou ao general Eduardo Villas Bôas, Comandante do Exército, o emprego de algum adjetivo para qualificar a mensagem que postou em sua página no Twitter às vésperas da decisão do Supremo Tribunal Federal que selou em abril passado a sorte de Lula. O tribunal negou habeas corpus para impedir que Lula fosse preso. A prisão foi decretada três dias depois.
Ao referir-se ao episódio em entrevista publicada pela Folha de São Paulo, Villas Boas admitiu: “Eu reconheço que houve um episódio em que nós estivemos realmente no limite, que foi aquele tuíte da véspera do votação no Supremo da questão do Lula”. No limite do quê? De caracterizar a irresponsabilidade do autor – ele mesmo? Ou no limite de um golpe?
Tudo indica que o general quis dizer que naquela ocasião temeu perder o controle sobre seus comandados, e que por isso pressionou o Supremo para que negasse o que a defesa de Lula pedira. Pois foi como sua mensagem acabou sendo entendida nos meios jurídicos e políticos do país. A decisão do Supremo acabou tomada pelo apertado placar de 6 votos contra 5.
“Sentimos que a coisa poderia fugir ao nosso controle se eu não me expressasse”, argumentou Villas Boas. De fato, militares da reserva, influentes na tropa, defendiam a tese de que Lula não poderia ser candidato a presidente porque fora condenado em segunda instância. Mas uma vez que continuava solto ainda tinha a chance de disputar a eleição.
Foi quando Villas Boas achou por bem assumir o controle da “narrativa”. Esta foi sua mensagem dividida em dois posts:
“Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?
Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”.
Se o pronunciamento do general foi levado em conta pelos ministros do Supremo é coisa que só se saberá se pelo menos um deles falasse a respeito. Improvável que falem.
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