O Blog antecipou mais cedo e no começo da noite a Associação de Defesa das Prerrogativas dos Delegados de Polícia na Paraíba emitiu nota criticando o Governo do Estado pelas remoções de delegados da Polícia Civil responsáveis pela Operação Cartola, que identificou fraudes no futebol paraibano e indiciou os dirigentes Zezinho do Botafogo (PSB) e Breno Morais, do Botafogo. O fato aconteceu três dias depois de reportagem da TV Globo trazer citação em que Breno, numa das conversas interceptadas, menciona suposta conversa com o governador Ricardo Coutinho sobre compra de um árbitro.
Em linhas gerais, a entidade acusa o atual secretário de Segurança Pública, Cláudio Lima, de “ingerência” no trabalho da Polícia Civil e reclama falta de autonomia gerencial. A Associação pede explicações plausíveis sobre as mudanças na Delegacia de Defraudações, condutora da investigação da Operação Cartola, além de se mostrar insatisfeita com o modelo adotado pelo secretário.
Confira a nota na íntegra:
A Associação de Defesa das Prerrogativas dos Delegados de Polícia da Paraíba – ADEPDEL vem a público se manifestar sobre as exonerações, de cargos em comissão, de Delegados de Polícia, publicadas no diário oficial de 31 de Outubro de 2018.
Inicialmente, cabe registrar o agradecimento a todos os colegas que foram exonerados. Sim, agradecer. A ADEPDEL reconhece a dedicação à Polícia Civil, durante o tempo em que ocuparam cargos importantes na gestão. Vocês enaltecem o nome da instituição.
A Polícia Civil evoluiu muito nos últimos anos, com muitas operações de repercussão nacional, redução de homicídios e aumento na elucidação de crimes. Foi também considerada a melhor Polícia Civil do País, segundo pesquisa da revista Exame. E os colegas, exonerados hoje, foram atores importantes desse processo.
A sociedade reconhece o trabalho da Polícia Civil, de João Pessoa à Cajazeiras.
Infelizmente, a Polícia Civil não tem autonomia financeira, administrativa e gerencial. Além disso, não evoluiu no tratamento humanitário ao policial. Rapidamente, esquecem a quantidade de serviços prestados.
A Polícia Judiciária Estadual fica à mercê de Secretários, que se utilizam dos belíssimos trabalhos da instituição para enaltecer planejamentos, ditos “autorais”. Na verdade, alguns dos colaboradores foram exonerados hoje.
O tratamento de subserviência que vem sendo dado e pregado pelo atual Secretário de Segurança é histórico, ou melhor, ficará para o rol das piores histórias da Polícia Civil.
A Polícia Civil sangra com esse modelo de gestão do Secretário Claudio Lima, que procura dividir e descartar o ser humano como papéis recicláveis, sem justificativas plausíveis ou até mesmo com fundamentos.
A ADEPDEL vem tentando construir uma Polícia Civil mais independente, no sentido de poder assinar um ofício, até mesmo comprar uma lâmpada ou cadeira, sem ter que pedir autorização ao Secretário da pasta.
Por sinal, os policiais civis estão cada vez mais desacreditados em ter uma Polícia Civil mais autônoma, assim como ocorre com a Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, pois se tirarmos o comando gerencial da Polícia Civil do Secretário de Segurança, esta secretaria não teria sentido de existir.
Os Delegados de Polícia Civil do Estado trabalham para a sociedade, não têm apego a cargos, não estão de passagem e sempre seguirão o caminho do bem, em busca de uma Polícia Judiciária cidadã, que possa priorizar o que a sociedade realmente quer.
Cargos em comissão são passageiros, são de livre nomeação e de exoneração. Já o histórico de dedicação de cada policial dentro da Polícia Civil ninguém apaga.
A ADEPDEL sempre defenderá os bons pleitos e muitas vezes apoiou a Secretaria de Segurança e o Governo contra politizações, com sugestões e ideias, muitas das quais implementadas pela força do argumento, sempre no intuito de ajudar a instituição, sem qualquer tipo de vaidade, priorizando um relacionamento institucional e isento. E assim continuaremos.
Fizemos um Plano de Segurança Pública, voltado para Reestruturação da Polícia Civil, com a melhor das intenções, ouvindo quem faz a segurança na ponta e, sobretudo, a sociedade. Atendemos mais 200 mil cidadãos paraibanos todos os anos. Sabemos o que a sociedade almeja. Apontamos os avanços dos últimos anos e o que precisa ser aperfeiçoado e melhorado.
Não copiamos plano de ninguém.
Reconhecemos as boas práticas.
Mas, exigimos respeito, pois construímos algo para o povo paraibano e que foi menosprezado, desde o início de sua construção, pelo atual Secretário de Segurança.
Ninguém é dono da verdade. Nenhum plano é infalível, de forma a não precisar ser aperfeiçoado. É preciso ter humildade para reconhecer isso.
Um dos mais graves problemas da Polícia Civil é a falta de autonomia gerencial e as constantes ingerências do atual Secretário de Segurança, que ocupa um cargo político, nas “escolhas” de nomes que dão “resultados”. Afinal, a Polícia Civil tem um Delegado Geral, que é o chefe da instituição.
Talvez o senhor Secretário não saiba, mas na pesquisa feita com os Delegados, mais de 98% estão insatisfeitos com o tratamento dado pela Secretaria de Segurança à Polícia Civil.
Continuaremos trabalhando, apesar de não apoiarmos a gestão do atual Secretário.
Defenderemos a busca pela redução dos homicídios.
Orientaremos os Delegados a priorizarem as demandas do cidadão comum, que escolheu o combate crime patrimonial como demanda essencial.
Nosso compromisso é a proteção da sociedade e o combate ao crime.
Sobre os motivos das exonerações, cabe ao Secretário de Segurança justificar ao povo paraibano. A título de exemplo, a Delegacia de Defraudações, subordinada a 1ª Superintendência Regional de Polícia Civil, é a que mais produz no Estado e o Delegado Lucas de Sá é o Delegado com maior produtividade na Polícia Civil, tendo seu trabalho reconhecido por todos. A 1ª Superintendência Regional de Polícia Civil, que até ontem tinha à frente o Delegado Marcos Paulo dos Anjos Vilela, Superintendente por 07 anos (Campina Grande e João Pessoa), é que mais contribui no Estado para a redução de homicídios, durante últimos anos.
Por fim, é preciso que Excelentíssimo Senhor Secretário de Segurança deixe os colegas trabalharem, busque melhorias para a instituição, como concurso público e armamentos, ajude aos 808 policiais civis que precisam se aposentar sem perdas e tenha a humildade para aceitar que existem outros atores e ideias, que visam à melhoria da Segurança do Estado.