A história recente é rica em exemplos de governos que usam as liberdades democráticas para acabar lenta e inexoravelmente… com a democracia e suas liberdades: de opinião, de oposição, judiciária, parlamentar, empresarial, eleitoral, como fizeram na Venezuela o carismático Hugo Chávez e seu chavismo travestido de bolivarianismo.
No início, com seu assistencialismo triunfante, o populista Chávez era adorado pelas multidões como um pai da pátria. Com referendos e plebiscitos fajutos, foi aparelhando as instituições e criando uma ditadura gradual. Sem permitir uma liderança que lhe fizesse sombra, nomeou seu sucessor, um completo idiota latino-americano que arruinou o país.
Seja Chávez ou Bolsonaro, o perigo de se acreditar cega e fanaticamente em um líder carismático, um mito, como Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias creem em Lula, é que ele não é infalível. E quando menos se espera, e nunca se espera que falhe, ele erra a mão, o timing e o conceito, se deixa levar pela emoção e o ego, em vez da razão. Considerado um gênio da estratégia política, Lula está sendo derrotado por ele mesmo pela segunda vez.
A primeira foi quando se apresentou como candidato natural à sucessão de Dilma no fatídico 2014, conforme combinado, e, por fraqueza, perdeu a parada no grito para um poste disfuncional que fez o diabo para se reeleger e nos levou para o brejo.
A segunda, quando deu uma demonstração de força liderando as pesquisas da cadeia, convencendo o eleitorado de que era candidato mesmo sabendo não ser. Enquanto esperava o milagre judiciário, Bolsonaro crescia, Lula sabotava alianças e esticava o seu tempo em cena até começar a transferência de votos para Haddad, que era infinitamente melhor e mais qualificado do que Bolsonaro, mas achou que a tsunami antipetista era marolinha… e o resto é história.
Agora, não adianta chorar sobre o Ciro derramado. Lula foi vítima de seu ego e de sua vaidade ilimitada. Mais uma vez, a quantidade vai vencer a qualidade no Brasil conservador e atrasado.
O Globo