Redes são o novo normal na política. Por Marco Aurelio Ruediger – Heron Cid
Bastidores

Redes são o novo normal na política. Por Marco Aurelio Ruediger

23 de outubro de 2018 às 14h00 Por Heron Cid

Desde a semana passada, o eixo da discussão política transitou das propostas temáticas dos candidatos para a questão do impacto das fake news nas redes sociais. Era evidente que as redes afetariam fortemente a política e as eleições. Mas, certamente, o volume e a virulência não eram esperados pela maioria, incluindo o próprio TSE.

As redes têm impacto não somente como meio, mas porque catalisam, e muitas vezes distorcem, em tempo real, elementos significantes como propostas, histórico, comportamento e narrativas.

O uso eficaz ou ineficaz do composto: meio, conteúdo e mensagem, é que faz diferença na competição política, constituindo um novo paradigma em processos eleitorais e decisórios, para o bem ou para o mal.

Ambos os campos neste segundo turno usam maciçamente as redes, não apenas para divulgar propostas, mas também para ataque a adversários. Até atores não nacionais operam para desinformar e fragmentar o ambiente político nacional. Nossas análises na FGV DAPP mostram e alertam que, desde 2014, isso é recorrente na política brasileira, e agora muito mais.

Não há, portanto, razão para espanto com o fato ou contrariedade com as reações. Não faz sentido impugnar um pleito nem ameaçar um tribunal, dado que todos os concorrentes têm, por assim dizer, no que toca o uso das redes, seu lugar no esquema de Dante, ainda que em níveis distintos.

Há, claro, razões de sobra para se indignar e buscar entender melhor o que ocorre. Trata-se, ressalto, de algo não episódico e que precisa de muito mais sofisticação do nosso establishment para entender seus efeitos, evitando que não sejam tão danosos à democracia futuramente.

Nesse sentido, o TSE desde o final de 2017 vem corretamente se debruçando sobre essa problemática. Para isso, promoveu seminários e debates, tendo ainda composto um conselho permanente em auxilio à sua direção superior.

No entanto, as sugestões mais assertivas que ali foram levadas deveriam ter sido objeto de maior reflexão pelo regulador. Infelizmente, privilegiou-se um entendimento do tipo “laissez-faire, laissez-passer” para as redes sociais. Uma articulação e ação mais incisiva sobre as plataformas não ocorreu, nem se obrigou a transparência em tempo real de uso dos recursos públicos, incluindo as contratações para impulsionar conteúdos e de propaganda virtual.

Não se articulou uma rede de centros de pesquisa com fins de monitoramento de bots, fake news e desinformação, em apoio ao tribunal. Por fim, a legislação nesse tocante permaneceu insuficiente. Deu no que deu.

Por outro lado, não se pode culpabilizar somente o TSE. Na questão do debate virtual, outros falharam. Centros de pesquisa deveriam ter buscado melhor articulação. Os partidos políticos, a exemplo da França, poderiam ter monitorado o ambiente virtual também. Equivocaram-se e contrataram ao marketing essa responsabilidade. Erraram feio ao não entender do que se trata esse novo fato.