Escândalo após escândalo, o povo se enfureceu. Por Fernanda Young – Heron Cid
Bastidores

Escândalo após escândalo, o povo se enfureceu. Por Fernanda Young

22 de outubro de 2018 às 11h30 Por Heron Cid

Esses dias, andando pelo meu bairro, fui chamada de “petista p… velha” por eleitores do Bolsonaro. Lembrou-me do “vadia lésbica”, dito por um petista, na época do impeachment da Dilma. Em comum entre estas duas agressões, o fato de eu haver expressado minha opinião.

Um amigo meu, gay, foi abordado na rua por um ambulante que vendia camisetas “Bolsonaro, Acabou a Palhaçada”. Ele, e vários outros, já estão apavorados, mudando as roupas que usam para parecerem “menos gays”. Aplicativos de encontros entre homens, agora, dão sugestões de como evitar emboscadas e recomendam aos usuários não postarem seus rostos — como em países de extrema homofobia, tipo Irã e Rússia.

No elevador de um centro médico, dois homens não se importaram que uma amiga minha ouvisse o seguinte diálogo: “Cara, tão matando um monte de mulher”, “Ah, vai ver que merecia.”

Em Niterói, cidade onde nasci e cultivei minha liberdade, grupos neonazistas fazem manifestações.

Permitam-me, então, tentar entender como chegamos a esse ponto.

O impeachment só pôde ser chamado de golpe porque foi atrasado. Desde o mensalão, havia razões mais do que suficientes para o PT ser questionado no poder. Collor dançou por muito menos. Mas o PSDB, cúmplice por omissão, pois também corrupto, não acreditava que eles iriam se reeleger. Menosprezaram o “carisma etílico” de Lula.

O caso do tríplex, ridículo de várias maneiras, foi o que permitiu transformarem Lula em “preso político”. Todos sabemos que o tríplex é o de menos. Lula fez o que bem quis, achando que nunca seria pego. Aquele áudio do Eduardo Paes, debochando dos pedalinhos do sítio dele, é revelador do descaso com que a classe política trata a população.

E, escândalo após escândalo, o povo foi ficando enfurecido, tendo seu espírito instigado a liberar os demônios do ódio e da intolerância. O bolsonarismo é fruto disso. Todos os radicalismos acabam sendo “justificados”, pois ninguém aguenta mais tanta canalhice seguida.

Chocada e triste, sinto-me já numa guerra fria, com todas as bombas apontadas para nossas cabeças.

O Globo

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