Em abril, o ministro Luiz Fux disse que as candidaturas que espalhassem notícias falsas seriam anuladas pela Justiça Eleitoral. Apesar da ameaça, a boataria correu solta, desequilibrou o jogo e ajudou a decidir votos. A promessa do ministro se tornou um exemplo involuntário de fake news.
O TSE fracassou na tentativa de coibir a indústria da mentira nas redes. A constatação é de dois outros ministros que falaram em caráter reservado com a coluna. Eles admitem que a comissão que fiscalizaria a campanha virtual se revelou inútil. Fux saiu de cena em agosto, quando seu mandato na Corte terminou.
No primeiro turno, ficou claro que o WhatsApp se tornou uma arma tão ou mais poderosa que a propaganda oficial. O aplicativo de mensagens instantâneas turbinou candidatos que tinham poucos segundos na TV. Também abriu um território livre para a disseminação de boatos com fins eleitorais.
Até aqui, o bolsonarismo foi quem melhor surfou a onda da desinformação. A tropa do candidato profissionalizou a difusão de vídeos falsos, como o que provaria uma fraude nas urnas eletrônicas. A Justiça já tirou parte do conteúdo do ar, mas o esforço tem sido igual ao de enxugar gelo.
Ontem uma reportagem da Folha de S.Paulo afirmou que um grupo de empresas financia a artilharia virtual contra o PT. O esquema usaria dinheiro de caixa dois para disparar milhões de mensagens pelo zap. Um dos acusados, o empresário Luciano Hang, já foi multado por outra prática ilegal: pagar ao Facebook para impulsionar postagens favoráveis ao capitão. Ao ser questionado sobre a nova denúncia, ele disse que não sabe “o que é isso”.
Bolsonaro também tentou se eximir de responsabilidade. “Eu não tenho controle se tem empresário simpático a mim fazendo isso”, disse o candidato que lidera as pesquisas. A frase lembra sua reação quando a imprensa começou a noticiar atos de violência praticados por seus apoiadores. “O cara lá que tem uma camisa minha comete lá um excesso. O que eu tenho a ver com isso?”, perguntou o capitão.
O Globo