Bolsonaro quer roubar Bolsa Família de Lula, que roubou de FHC. Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

Bolsonaro quer roubar Bolsa Família de Lula, que roubou de FHC. Por Reinaldo Azevedo

11 de outubro de 2018 às 09h43 Por Heron Cid

Lula roubou os programas sociais de FHC, que atendia a cinco milhões de família, unificou-os, deu-lhes um novo nome — Bolsa Família — e dobrou o número de beneficiários. Agora, Jair Bolsonaro (PSL), se eleito, quer roubar o programa de Lula, acrescentar-lhes alguns penduricalhos, como um 13º pagamento e, ora vejam!, também pretende, se eleito, mudar o nome do benefício.

Informa a Folha:
A equipe de Jair Bolsonaro (PSL) prepara duas propostas de grande porte na área social que serão financiadas com o cancelamento de cerca de R$ 68 bilhões em benefícios hoje direcionados a trabalhadores e empresários.

Os dois novos programas custarão quase R$ 100 bilhões por ano ao governo. Se o candidato for eleito, a ideia é ampliar o Bolsa Família criando uma dimensão “super” ao programa que virou a grande marca da era petista. A outra proposta prevê a universalização de creches para bebês e crianças de até três anos de idade.

Ambas as iniciativas acenam para famílias com renda domiciliar per capita de até um salário mínimo, especialmente do Norte e do Nordeste, e preservam o acesso de mulheres ao mercado de trabalho. São os eleitores mulheres e de grupos mais pobres os que apresentam maior resistência à candidatura do capitão reformado do Exército.

Para implementar esses programas, os assessores de Bolsonaro planejam acabar com o abono salarial, incorporando esses recursos —R$ 19 bilhões, em 2019—, e cancelar incentivos tributários para empresas no montante de R$ 49 bilhões por ano.

De onde virá  o dinheiro
R$ 19 bi – em 2019 serão destinados ao programa do ‘super Bolsa Família’ e de universalização do acesso às creches no país com o fim do abono salarial;
R$ 49 bi – anuais serão incorporados ao programa por meio do cancelamento de incentivos tributários para empresas ;
R$ 30 bi – por ano sairão do Orçamento da União e já são destinados atualmente ao Bolsa Família, que ganhará outro nome no eventual governo Bolsonaro.

Os outros R$ 30 bilhões sairão do Orçamento da União já destinado ao Bolsa Família –que seria ampliado e ganharia outro nome.
(…)

Voltei
Pois é… O Bolsonaro que, num dia, rejeita a privatização da geração de energia e que faz uma leitura, vamos dizer, estatizante da Petrobras, agora se prepara para bombar o “Bolsa Família”, que até mudaria de nome porque viria atrelado também a um programa de creches. Mas, como se nota, trata-se apenas, no que concerne à assistência em dinheiro, em reunir benefícios que já existem, mas com marca própria.

Para a banda dos ultraliberais que o apoiam, vai sobrar uma certa decepção. Manifestações de seus eleitores mais fanáticos sempre foram bastante hostis ao Nordeste, acusando a região de só votar no PT em razão do que muitos chamam “Bolsa esmola”. Si, é claro que o programa tem também apelo eleitoral, não é mesmo? E parece evidente que Bolsonaro está de olho nesse capital eleitoral.

Um breve histórico
Lula não gostava de coisas como Bolsa Família. Por isso inventou um troço que nunca deu certo chamado “Fome Zero”.
No dia 9 de abril de 2003, o então presidente fez um discurso no semiárido nordestino, na presença de Ciro Gomes, em que disse com todas as letras que acreditava que os programas que geraram o Bolsa Família levavam os assistidos à vagabundagem. Querem ler? Pois não!

Eu, um dia desses, Ciro [Gomes, ministro da Integração Nacional], estava em Cabedelo, na Paraíba, e tinha um encontro com os trabalhadores rurais, Manoel Serra [presidente da Contag – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura], e um deles falava assim para mim: “Lula, sabe o que está acontecendo aqui, na nossa região? O povo está acostumado a receber muita coisa de favor. Antigamente, quando chovia, o povo logo corria para plantar o seu feijão, o seu milho, a sua macaxeira, porque ele sabia que ia colher, alguns meses depois. E, agora, tem gente que já não quer mais isso porque fica esperando o ‘vale-isso’, o ‘vale-aquilo’, as coisas que o Governo criou para dar para as pessoas.” Acho que isso não contribui com as reformas estruturais que o Brasil precisa ter para que as pessoas possam viver condignamente, às custas do seu trabalho. Eu sempre disse que não há nada mais digno para um homem e para uma mulher do que levantar de manhã, trabalhar e, no final do mês ou no final da colheita, poder comer às custas do seu trabalho, às custas daquilo que produziu, às custas daquilo que plantou. Isso é o que dá dignidade. Isso é o que faz as pessoas andarem de cabeça erguida. Isso é o que faz as pessoas aprenderem a escolher melhor quem é seu candidato a vereador, a prefeito, a deputado, a senador, a governador, a presidente da República. Isso é o que motiva as pessoas a quererem aprender um pouco mais.

No dia 20 de outubro daquele mesmo ano, mandava ao Congresso a Medida Provisória que pegava todos os programas deixados por FHC e os unificava no que passou a chamar “Bolsa Família”. Transcrevo o texto:

(…) programa de que trata o caput tem por finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do Governo Federal, especialmente as do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação – “Bolsa Escola”, instituído pela Lei n.° 10.219, de 11 de abril de 2001, do Programa Nacional de Acesso à Alimentação – PNAA, criado pela Lei n.° 10.689, de 13 de junho de 2003, do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Saúde – “Bolsa Alimentação”, instituído pela medida provisória n.° 2.206-1, de 6 de setembro de 2001, do Programa Auxílio-Gás, instituído pelo Decreto n.° 4.102, de 24 de janeiro de 2002, e do Cadastramento Único do Governo Federal, instituído pelo Decreto n.° 3.877, de 24 de julho de 2001.

Fica evidente que não se tratava de uma criação de programa, mas de uma unificação. Justiça de faça: os programas de FHC alcançavam 5 milhões de famílias, mas o governo tinha pudor de explorar a questão. Na campanha de José Serra à Presidência, em 2002, não se tocou no assunto.

Se eleito, Bolsonaro, como se nota, pretende tomar de Lula o que Lula havia tomado — e ampliado — de FHC.

Huuummmm…  Se Bolsonaro foi eleito e implementar as mudanças, talvez os bolsonaristas mais entusiasmados parem de associar nas redes sociais o beneficiário do Bolsa Família — que terá outro nome —à vagabundagem.

Que nome teria, hein? Que tal “Bolsa da Família Tradicional”? Ou “Bolsa de Família”?  “Bolsanaro” poderia cheirar a propaganda pessoal, né?

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