Faltou pouco para o governador Ricardo Coutinho fazer barba, cabelo e bigode na eleição de sua sucessão. A única curva no meio do caminho foi o insucesso de Luiz Couto (PT), na disputa ao Senado. No mais, quase tudo que o socialista queria as urnas deram: João Azevedo (PSB), eleito no primeiro turno ao Governo, Veneziano Vital (PSB) consagrado como senador e, de quebra, a derrota do inimigo declarado, Cássio Cunha Lima (PSDB).
Uma vitória política dessa envergadura quase nunca é explicada por um fator específico. A soma deles traz um diagnóstico para tradução.
A perfomance do Governo, aprovado por mais de 70% da população paraibana, a capilaridade política que o PSB alcançou em oito anos no Palácio da Redenção, a presença marcante da gestão em obras nas principais cidades do Estado, a começar da capital, e a base política de maioria esmagadora na Assembleia.
O governador Ricardo Coutinho dominou a cena desde o começo do processo eleitoral. Soube agir, acertadamente, para fragmentar a oposição, e minar a possibilidade de candidatura do prefeito Luciano Cartaxo, tido e havido à época como maior ameaça aos planos de longevidade do “projeto”.
A arriscada decisão de permanecer no “comando do processo”, de não renunciar ao cargo e de abdicar da disputa ao Senado foi vital, nesse contexto. Com o controle absoluto da sucessão, Ricardo deu as cartas, formou a chapa ao seu modo, deu o tom do discurso da candidatura governista, chamou a oposição para o seu território e praticou o que mais sabe fazer: desconstruir os adversários. Exerceu papel definitivo de cabo eleitoral e a capacidade de transferência de votos.
Tudo isso seria em vão sem um candidato com perfil e mérito próprio que João Azevedo revelou no curso da campanha. “Meu nome é João”, chavão bem difundido, deu o recado do protagonismo que o ex-secretário assumiu durante o processo. Nas entrevistas e debates, o socialista passava credibilidade e transmitia segurança ao eleitor, simpático ou não ao governo. E não cometeu erros. Um desempenho que catapultou seu crescimento paulatino no meio da eleição e avassalador na reta final do pleito. Não é exagero dizer que nasceu ontem uma nova liderança política na Paraíba.
A oposição, vamos combinar, também ajudou com sequência de deslizes, abissal falta de unidade e choque de interesses que levaram aos improvisos de última hora e a aposta numa candidatura (Lucélio Cartaxo) gestada às pressas.
Mas não se pode ignorar o contexto. A larga vitória do socialismo paraibano acentua um ciclo político forjado pelo governador Ricardo Coutinho. Algo semelhante ao que experimenta o vizinho estado de Pernambuco, com Eduardo Campos e depois Paulo Câmara, eleito e reeleito, ontem, no primeiro turno. Ricardo inaugurou uma nova fase na política paraibana, trazendo novos atores à cena e empurrando lideranças tradicionais ao desfiladeiro ou à obrigatória reciclagem.
Quando venceu Cássio Cunha Lima em 2014, foi dito que Coutinho saiu grande das urnas. Depois desse emblemático 7 de outubro, ele se agigantou. Não só pelo resultado, mas pelo significado do que representou seu papel no saldo final.