Meus amigos estão espantados com a possibilidade da ex-presidente Dilma Rousseff ganhar a eleição e se tornar senadora por Minas Gerais. Eu não. Torço por Dilma: quero que ela se eleja, volte a Brasília e motive muitos memes na internet.
Sim, eu sei, Dilma se elegeu depois de campanhas que custaram quatro vezes mais que o declarado, como revelou a delação de Antonio Palocci. A presidente pedalou, quebrou as contas do país, afugentou investidores, deixou rolar o maior caso de corrupção da história do mundo, jogou de volta à miséria milhões de brasileiros que começavam a saborear a prosperidade e o crescimento da economia.
E, se a Constituição tivesse sido respeitada, Dilma teria seus direitos políticos cassados por 8 anos.
Mas pensem bem. Se o ministro Lewandowski não tivesse feito aquela malandragem, aquela picaretagem, aquele duplo twist digno de shows erótico-acrobáticos da rua Augusta, os mineiros teriam que escolher outro candidato ao Senado. Que provavelmente seria tão ruim quanto Dilma. Um por outro, prefiro o mais divertido.
Estamos há dois anos sem os discursos embaralhados, as frases carentes de nexo, as metáforas claudicantes da presidenta. Tantas tristezas a política nos causa: de vez em quando temos que nos vingar dela, ridicularizar essa gente que nos força a pagar impostos e a seguir leis absurdas.
Se as pesquisas sobre o segundo turno estiverem certas, será preciso aguentar o PT por mais quatro –provavelmente oito anos. Só o humor nos salvará desse martírio.
Dilma representa quem defende a completa desmoralização da política. No último século, dezenas de milhões de pessoas morreram por causa da crença na salvação pela política –a ideia de que revolucionários virtuosos, por meio de atitudes enérgicas e bom planejamento, eliminariam o mal e os vícios da sociedade. A esperança de que redentores poderiam trazer o Céu à Terra justificou extermínios e perseguições.
Mas Dilma nos deixa imunes a esse perigo. Impõe a certeza de que toda essa maluquice não vai dar certo, a constatação de que é ridículo almejarmos a perfeição pela via da política.
Burke, o pai do conservadorismo inglês, dizia que a prudência é a principal virtude de um líder. Quanto mais tédio e sono o político provoca, melhor ele é. Mas talvez exista um concorrente ainda mais virtuoso: a figura pública capaz de causar vergonha alheia. Evita o surgimento de qualquer traço de nacionalismo, qualquer sonho de redenção coletiva.
Pode ficar melhor –quem sabe daqui quatro anos o Cabo Daciolo não se elege senador? Assim teríamos a opereta completa: Dilma e Daciolo na câmara alta do Congresso Nacional discutindo questões fundamentais para o futuro do país. É esse o Brasil que eu quero. Glória, adeus!