A alta de Jair Bolsonaro deixou o PT atônito. O partido terminou a semana passada beirando a euforia. Considerava que Fernando Haddad havia se tornado favorito a vestir a faixa. Os mais animados já discutiam a nomeação antecipada de ministros.
As novas pesquisas jogaram água no chope petista. No Datafolha de ontem, dois dados alarmaram a campanha. A rejeição de Haddad subiu nove pontos, chegando a 41%. Ao mesmo tempo, Bolsonaro recuperou a liderança entre as mulheres, que resistem mais ao seu discurso de ultradireita.
“Acendeu uma luz amarela na campanha. De amarela para vermelha”, resume o ex-ministro Gilberto Carvalho. “As pesquisas refletem o crescimento do antipetismo. Isso significa que os ataques ao Haddad estão surtindo efeito”, analisa.
Quem acompanhou o petista nos últimos dias notou um candidato de salto alto. Embalado por pesquisas favoráveis, ele fazia uma campanha olímpica, ignorando os adversários. No debate da TV Record, chegou a menosprezar Ciro Gomes, sugerindo que queria seu apoio no segundo turno.
Agora o tom mudou. Ontem Haddad elevou a voz contra Bolsonaro. Chamou o capitão de “figura exótica”, sugeriu que ele precisa de tratamento psicológico e questionou sua evolução patrimonial.
A campanha do ex-prefeito vive um dilema. O núcleo petista quer que ele reforce a associação com Lula e as promessas para o eleitor mais pobre. Mas o candidato sabe que precisa moderar o tom se quiser buscar votos da centro-direita no segundo turno.
Ontem ele deu sinais trocados ao dizer que “parte expressiva da elite brasileira abandonou a social-democracia pelo fascismo”. Pode ser, mas agora o seu desafio é outro: conter o crescimento de Bolsonaro em redutos lulistas, como o Nordeste.
Os petistas também batem cabeça para entender a alta do rival entre as mulheres. Alguns acreditam que os protestos de sábado, com forte tom feminista, teria assustado as eleitoras mais conservadoras. “O #EleNão pode ter ajudado o #EleSim”, admite Gilberto Carvalho.