Moro, Palocci e o procurador da Lava Jato. Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

Moro, Palocci e o procurador da Lava Jato. Por Reinaldo Azevedo

2 de outubro de 2018 às 09h19 Por Heron Cid

Não! Não é Reinaldo Azevedo, um crítico dos desmandos da Lava Jato — não de suas virtudes —, quem diz que a delação de Palocci é, para dizer pouco, polêmica. É o Ministério Público Federal! Carlos Fernando dos Santos Lima, a segunda face mais famosa da operação no MPF, depois de Deltan Dallagnol, concedeu entrevista à Folha no dia 30 de julho e afirmou o seguinte sobre a delação de Palocci:
Vou dar o exemplo também do acordo do [Antônio] Palocci, celebrado pela PF depois que o Ministério Público recusou. Demoramos meses negociando. Não tinha provas suficientes. Não tinha bons caminhos investigativos. Fora isso, qual era a expectativa? De algo, como diz a mídia, do fim do mundo. Está mais para o acordo do fim da picada. Essas expectativas não vão se revelar verdadeiras. O instituto é o problema? Eu acho que a PF fez esse acordo para provar que tinha poder de fazer. (…) Foi uma queda de braço talvez conosco, mas a porta da frente dos acordos sempre será o Ministério Público. A porta dos fundos é da PF. As pessoas irão à PF se não tiverem acordo conosco. Não recusamos porque não gosto da cara do cidadão, mas porque vamos ter dificuldade para explicar por que fizemos. Acordo não é favor.”

Alguém, bolsonarista ou não, lava-jatista ou não, ousaria chamar Carlos Fernando, na Lava Jato, de conivente com a corrupção? Ele sempre foi tão ou mais radical dos que seus pares. E, como se nota, segundo diz, a delação de Palocci está mais para “fim da picada” do que para “fim do mundo”.

Ora, será, então, que o MPF não se esforçou o suficiente no caso de Palocci? E por que não o faria? Uma delação com essas características, que traz essa mácula original, que é feita num evidente desespero do delator para deixar a cadeia… Bem, meus caros, quando menos, não deveria ser instrumentalizada para fins eleitorais.

“Ah, você está querendo ajudar o PT?” Bem, a pergunta parte do pressuposto, então, de que Moro está querendo ajudar Bolsonaro, certo? Ou a inversa não seria verdadeira? De qualquer modo, a premissa de quem fizesse a primeira pergunta seria falsa por uma razão óbvia: devemos nos perguntar, reitero, se é lícito que um juiz dê publicidade a acusações ainda não-provadas, feitas por um bandido confesso, que depende desse expediente para deixar a cadeia. A ser assim, vamos nos preparar para, de dois em dois anos, ver as delações e suas respectivas quebras de sigilo a se multiplicar.

É visível que a própria imprensa, no geral, não se dá conta da gravidade do que está em curso.

RedeTV

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