Deve se reconhecer. Não deve ser fácil para o deputado federal Luiz Couto, candidato do PT ao Senado, conciliar sua fé cristã e os conceitos ideológicos marcantes do seu partido e militância petista.
O choque ficou absolutamente perceptível, ontem, durante entrevista do candidato ao Arapuan Verdade, da Rede Arapuan de Rádio.
Ao ser perguntado sobre o aborto, o parlamentar se permitiu a uma resposta carregada de contradições.
Primeiro, uma palavra mais à linha da Igreja Católica, fervorosamente contrária à interrupção deliberada da gravidez, fora dos casos previstos em Lei:
“Eu sou a favor da vida em todas as dimensões. Tem gente que só defende a criança no ventre da mãe, depois a criança pode ser violentada e executada (…). Se defende a vida em toda a sua dimensão, porque Deus criou homem e mulher à sua imagem e semelhança”.
Depois, uma satisfação aos movimentos favoráveis à legalização do aborto, sofisticadamente minimizada pelo termo “descriminalização”:
“Agora acho que é importante investir na educação para que as pessoas tenham sexo seguro para depois não retirar as pessoas. Agora se alguém decidir fazer o aborto que possa ter um espaço público e que possa ter isso e não ir às chamadas pessoas que fazem aborto e depois morre a criança e morre a criança que sofreu o aborto”.
O autor do Blog, um dos entrevistadores, quis um esclarecimento sobre a dubiedade. Couto reafirmou a defesa por um “serviço público que possa dar a condição para se ela fez (o aborto) dar a segurança para que de fato não aconteça a morte dessa pessoa”.
Outra pergunta: casamento do mesmo sexo?
“O Supremo já definiu. As pessoas podem ter a diversidade sexual. Não é casamento. É um contrato. O casamento para a Igreja é uma benção que nós damos. É um contrato que é feito e um contrato que deve expressar na lei do amor. Nesse sentido, nós achamos que o Supremo decidiu e só um projeto de emenda o Congresso pode mudar o que o Supremo definiu.
A resposta foi uma tentativa de dissociação entre o jurídico e o religioso. Diante da diferenciação, o inevitável questionamento: “O senhor é padre, abençoaria essa união”?
A réplica: “O casamento não é uma bênção, é um contrato. É um contrato como eu faço de uma casa para morar. Isso prova de que as pessoas usam a questão do casamento. Para nós que acreditamos têm que ser prova de amor. Muitos não dá certo porque foi por uma paixão”.
Entendeu? Nem eu.
Para esses temas polêmicos, Luiz Couto flerta com os dois pólos. E talvez desagrada e se conflita com ambos.
Os cristãos esperam do padre uma posição direta e alinhada com a Igreja Católica.
Os militantes dos movimentos progressistas buscam nele uma caixa de ressonância das causas e bandeiras em voga.
Conhecedor e estudioso das Escrituras, Luiz Couto sabe mais do que muitos: “Ninguém pode servir a dois senhores”.
(Ouça áudio da entrevista)