A eleição presidencial costuma lembrar uma maratona. Os candidatos mais precavidos largam com quatro anos de antecedência. Cruzam o país, disputam convenções, constroem alianças. Quando a torcida se dá conta, já venceram a maior parte do percurso.
Para Fernando Haddad, a campanha será uma corrida de tiro curto. A partir de hoje, ele terá apenas 25 dias para se apresentar ao eleitor. Sua vantagem está nas sapatilhas. Elas têm o retrato de Lula, o Usain Bolt das últimas eleições brasileiras.
Se não fosse barrado, o ex-presidente ainda venceria com um pé nas costas. No fim de agosto, ele liderava com 39% das intenções de voto. Nas simulações de segundo turno, batia todos os adversários com pelo menos 20 pontos de vantagem. Como o favorito está preso, o bastão foi passado a um velocista de primeira viagem.
Haddad largou sob a sombra do padrinho. Depois de encenar o papel de vice, voltou a se fantasiar de poste. Já deu certo em 2012, quando ele superou o tucano José Serra e se elegeu prefeito de São Paulo.
Quatro anos depois, o petista tentou a reeleição e foi atropelado por João Doria. Ele atribui a derrota ao impeachment e e ao desgaste do partido com a Lava-Jato. Esquece de dizer que sua gestão era considerada ruim ou péssima por 48% dos paulistanos.
Os números do Datafolha indicam que a raia está aberta para Haddad. Ele tem 9% das intenções de voto, mas parece ser o candidato com maior potencial de crescimento no primeiro turno. Na segunda-feira, seis em cada dez eleitores ainda não sabiam identificá-lo como o escolhido de Lula. A pesquisa mostrou que 33% estão dispostos a votar “com certeza” em quem o ex-presidente indicar.
O desafio de Haddad é acelerar a transferência de votos sem a companhia do padrinho, que continuará trancado na carceragem da PF. Ontem os rivais começaram a criticá-lo por receber ordens de um detento. É uma estratégia arriscada. Tudo o que o PT quer é convencer o eleitor de Lula que ele voltará a governar, mesmo que seja de dentro de uma cela.