O teto de Bolsonaro. Por Carlos Andreazza – Heron Cid
Bastidores

O teto de Bolsonaro. Por Carlos Andreazza

4 de setembro de 2018 às 11h11 Por Heron Cid
Jair Bolsonaro participa do 'Roda Viva', na TV Cultura (Guilherme Venaglia/VEJA)

Terá Jair Bolsonaro batido em seu teto eleitoral de primeiro turno? Para quem, como eu, não tem (nunca teve) dúvida sobre a força de transmissão de votos de Lula a seu cavalo Fernando Haddad, essa — acerca do deputado federal — impõe-se como a mais importante questão do momento. Terá o candidato do PSL encontrado seu limite em algo como 20% do eleitorado? Avalio que sim. Com prudência: sim.

Um indicativo lógico a respeito merece especial consideração. Se Lula cresce consistentemente, conforme indicam as pesquisas, seria óbvio supor que — em resposta — cresceria o sentimento anti-Lula. Seria óbvio também supor que, materializado em votos, esse sentimento de repúdio beneficiasse Bolsonaro, aquele que melhor encarna o desprezo ao lulopetismo. Há semanas projeto — espero, tento captar — esse movimento reflexo, a ascensão do deputado como reação à do ex-presidente, disparo que imaginava de impacto imediato nas sondagens, e que considerava maneira substancial de testar a hipótese de haver o capitão encontrado seu teto eleitoral. Lula cresceu, vê-se; mas não Bolsonaro — certamente não de modo a vazar margens de erro.

Se é claro que convém insistir no monitoramento dessa possível curva reativa, cujo tempo de resposta, afinal, pode não ser o instantâneo, claro também é que se pode falar, com alguma segurança, de limite de expansão para o presidenciável do PSL.

Outro ritmo conexo merece detido acompanhamento: a forma como progride — vem progredindo — o índice de rejeição a Bolsonaro; e isso mesmo sem que qualquer de seus adversários ou entrevistadores o tenham tratado como um candidato normal, condição em que se veria, como qualquer outro, obrigado a mostrar se já aprendeu algo sobre peso do serviço da dívida no Orçamento da União e — para ficar apenas em mais uma questão que lhe causou apagão recente — mortalidade infantil. É — voltemos — combinação delicada: estagnação, cabeça no teto, mais avanço no volume de refusão. O aumento contínuo da taxa de rejeição historicamente representa etapa anterior à queda no percentual de intenção de votos.

Com a fotografia acima revelada não quero, por favor, dizer que a posição de Bolsonaro seja desconfortável. Não mesmo. O sujeito lidera a corrida à Presidência — e o faz com sólida base de algo como 15% de votos espontâneos, aqueles declarados sem qualquer estímulo, dos quais se pode afirmar serem de difícil subtração. Se ponderarmos não ser improvável que se alcance o segundo turno com 18%, talvez mesmo 17%, constataremos que o deputado não estaria longe — hoje — de conseguir.

Meu ponto aqui é outro e propõe uma camada: o de que há (pode haver) desconforto — algum grau de pressão — no conforto. Porque, a ser verdade que o deputado tenha encontrado seu teto, isso significaria tê-lo feito prematuramente; o que, por consequência, significaria ver-se imposto a mais de mês em permanente estado de defesa, restrito e obrigado a proteger seu patrimônio eleitoral. Não é perspectiva agradável a indivíduo de natureza ofensiva, contra quem, nesse período, ademais se voltará — com maior ou menor eficiência — uma blitz de desconstrução comandada pelo establishment político. Como a fortaleza Bolsonaro resistiria, por exemplo, a uma insistente associação a Dilma Rousseff, trauma brasileiro ainda quente, inexperiente como ele, eleita presidente na base da mitologia e que nos levaria a buraco sem precedente?

Em circunstância como essa, a ser assim, nunca é fácil suportar — não sem alguma perda. Aos que subestimam os efeitos eleitorais da propaganda no rádio e na TV em um país como o Brasil, lembro que o adversário direto do deputado não terá apenas quase metade do tempo de exposição nesses veículos, mas que terá tudo isso — atenção — sem que o candidato do PSL tenha espaço minimamente competitivo para reagir. Será então que veremos se Bolsonaro é mesmo antifrágil, conceito de que tratei em artigo anterior.

O comportamento recente do candidato pode ser compreendido como admissão de que avalia — de que considera, estuda — a hipótese de haver chegado a um teto. Refiro-me à mudança de postura — agora mais restritiva — sobre participações em debates e entrevistas. É simples: quem percebe o próprio limite logo entende que só tem a perder quando exposto a conflito. A campanha começa agora. Não será resolvida à bala. Isso não quer dizer que não haverá sangue.

O Globo

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