O PSDB promete eliminar o déficit em dois anos, mas não fica claro como isso será feito. O espaço para corte é mínimo, e o partido não faz de forma explícita a defesa de se tirar da Constituição as destinações obrigatórias. A Caixa poderá ser privatizada. O partido promete não aumentar impostos e garante reduzir fortemente as renúncias fiscais. A reforma da Previdência terá idade mínima de 65 anos e vai buscar aumento da contribuição, em vez de redução de benefício.
A terceira entrevista com assessores econômicos de candidatos foi com o economista Persio Arida, doutorado pelo MIT, e um dos formuladores do Plano Real. O grande problema dos tucanos é que, para serem coerentes, eles precisam explicitar o ajuste que pretendem fazer para tirar o país do buraco fiscal. Isso exige defender propostas impopulares. Persio Arida diz que um presidente ao chegar tem muita força e lembrou que Collor aprovou até o confisco.
Com essa força, ele afirma que Geraldo Alckmin fará o ajuste fiscal e sem aumento de impostos. O PSDB também defende a taxação de lucros e dividendos, com redução do imposto sobre empresas, como outros partidos têm proposto. A ideia tem sido o grande consenso desta eleição, mas a execução pode ser diferente. Se não vai aumentar tributos, de onde virá um ajuste tão rápido? Ele diz que serão cortados gastos. Hoje, de R$ 1,3 trilhão de despesas primárias, só R$ 128 bilhões podem ser mexidos pelo governo e aqui estão investimentos e custeio. Persio afirma que qualquer pessoa que já esteve no governo sabe que há onde cortar. Mesmo assim, será pouco perto de um déficit de R$ 139 bilhões. Defendeu redução drástica dos benefícios ficais para empresas e setores. “Era 2% do PIB e hoje está em 4,5%”. Admite que isso significa enfrentar lobby de empresários. Ao falar de privatização, ele disse que não estão na lista Petrobras e Banco do Brasil. A Caixa seria privatizada? Não disse que sim nem que não.
Parte do ajuste viria do crescimento que segundo ele ocorrerá a partir do aumento da confiança, de mudanças regulatórias, com agências sem nomeação política. Segundo ele, o investimento será do setor privado e não do Estado. Defendeu que não haja qualquer receio contra empresa estrangeira. “O chinês vai investir numa hidrelétrica e levar para a China?”
Persio diz que emprego não é criado pelo governo, mas sim pelo setor privado. É contra políticas específicas de criação de vagas e disse que os programas do Ministério do Trabalho serão transferidos para o Ministério do Desenvolvimento Social, que viraria um superministério. Diz que “o grande empregador de obra menos qualificada é a infraestrutura”, por isso o governo atrairá investimento para o setor. “O Brasil tem um potencial extraordinário, tem excesso de capitais lá fora, é questão de ter marco regulatório e segurança jurídica.”
Ele defendeu que o FGTS seja remunerado por uma taxa maior, talvez a TLP. Alckmin tem prometido dobrar a renda do brasileiro, mas Persio admite que isso só aconteceria em 20 anos, se forem criadas as condições para crescimento anual de 4%, o que seria possível com o ambiente favorável ao setor privado e investimento forte em educação. A promessa do PSDB é subir 50 pontos no PISA, hoje estagnado. Não ficou claro como investir mais em educação se a ideia é mexer nas vinculações constitucionais. Os tucanos falam em elevar a corrente de comércio para 50% do PIB. Só que ela está estagnada em 16% e o mundo está entrando numa guerra comercial. Segundo ele, o aumento ocorrerá com mais abertura, que derrubaria para 15% a barreira tarifária máxima. “O protecionismo está brecando o crescimento e o aumento da produtividade”, diz.
Persio foi do Banco Central e foi banqueiro privado, e diz que é possível reduzir fortemente o spread bancário aumentando a competição. Defendeu que se possa tomar empréstimo no exterior e que haja mais possibilidade de empresas no setor financeiro. Segundo ele, Ilan Goldfajn seria convidado a permanecer. E defendeu que a diretoria do Banco Central tenha mandatos fixos e alternados. A grande dúvida em relação ao PSDB é o real compromisso hoje com a agenda reformista que seu economista prega. Principalmente diante da coligação com partidos fisiológicos do centrão, que têm barrado as reformas e a modernização do Brasil.
O Globo