Eleição aberta. Por Merval Pereira – Heron Cid
Bastidores

Eleição aberta. Por Merval Pereira

23 de agosto de 2018 às 11h34 Por Heron Cid

O crescimento da candidatura do ex-presidente Lula nas recentes pesquisas Ibope e Data folha confirma o seu favoritismo, que aumentou provavelmente devido à exposição pelo registro no TSE, pois o PT é muito competente na propaganda. Sem dúvida, Lula é o favorito; as pesquisas mostram que se fosse candidato ganharia, mas não vai ser, é inelegível pela Le ida Ficha Limpa. O que vale mesmo é definir sua capacidade de transferir votos para Fernando Haddad.

Há informações contraditórias: pesquisas mostram que a maioria dos eleitores petistas não votaria em Haddad. Outras informam que Lula, e não o PT apenas, deve passar pelo menos 50% de seus votos a seu substituto, o que o levaria para o segundo turno com uma votação entre 20% e 30%.

Se o PT puder usar a imagem de Lula na propaganda eleitoral, o impacto será muito grande. A legislação eleitoral diz que o candidato tem que estar em 75% nos programas eleitorais. Mas vai ser necessariamente discutido no TSE se, por exemplo,Haddad poderá falar com a imagem de Lula atrás. Se o PT poderá usar imagens de arquivo com o ex-presidente, mesmo que tenha sido impugnado antes da propaganda eleitoral, que começa no dia 31.

Sabe-se que o ex-presidente gravou um programa antes de ser preso, quando estava no Sindicato dos Metalúrgicos. Essa deve ser uma mensagem emotiva que, unida a outras imagens daquele dia, reforçaria a ideia de que ele está preso injustamente. Tudo isso vai influir na capacidade de transferência de votos para Haddad.

Na recente visita ao Nordeste, pelos relatos, poucos sabiam exatamente quem ele era. E era chamado com frequência de Andrade. Mas isso aconteceu também com Dilma, que no começo era identificada como “a mulher do Lula”. Essa identificação tinha vários significados, alguns achavam mesmo que Dilma era a mulher de Lula, outros sabiam que ela era a mulher que Lula indicou.

Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência da República, diz que sente em suas viagens que tem mais votos do que Lula. Há ainda os possíveis “eleitores envergonhados”, que preferem Bolsonaro, mas não revelam o voto com receio da reação. Não é impossível, portanto, que tenha mais eleitores do que captam as pesquisas.

Contra Bolsonaro, e também contra o PT, porém, há o voto útil que, em uma eleição como esta, pode ser fundamental já no primeiro turno. Diante da possibilidade real de Bolsonaro ou o PT estarem no segundo turno, muito eleitor tucano pode votar em Marina, assim como parte dos eleitores petistas que não anularem o voto caso Haddad esteja fraco. Ela é quem mais ganha nessa situação, seguida de Ciro Gomes, do PDT.

Os políticos do centrão certamente abandonarão um candidato sem chance de vitória, e irão atrás dos primeiros colocados, no caso Bolsonaro ou Haddad. Difícil irem atrás de Marina. O voto útil, porém, pode ajudar Alckmin caso esteja competitivo, disputando o segundo lugar contra Ciro ou Marina.

Já Ciro Gomes poderá ter o apoio dos partidos de esquerda que não conseguem se unir no primeiro turno. Pode ser que a perspectiva de a esquerda tradicional não ir para o segundo turno faça com que eleitores invistam em Ciro, para evitar que ele seja disputado pela extrema-direita contra a centro-direita, que pode ser representada tanto por Marina quanto por Alckmin. Ciro pode também receber votos da centro-direita se for possível impedir que Bolsonaro ou Haddad disputem o segundo turno.

O Globo

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