O PT tem uma capacidade inimitável de transformar momentos tensos da história em instantes de festa e discurso. Nesta quarta-feira foi assim. Ao registrar a candidatura natimorta de Lula, os líderes e a militância do PT fizeram parada, marcharam de mãos dadas, sorriram abertamente e fizeram sinais da vitória olhando nas lentes de fotógrafos e cinegrafistas.
Para ser simpático, pode-se dizer que se tratava de luta política.O partido dos trabalhadores já trilhou inúmeras vezes este caminho. A tática é produzir muito barulho, fazer bastante espuma, para ao final das contas recuar e adotar outro papel:o de quem foi derrotado por forças retrógradas. Claro, porque todas as forças progressistas estão com o PT, acredita o inacreditável PT. No Congresso, desde a sua primeira bancada de oito deputados, o partido age assim.
Hoje, com recursos de forças sindicais e sobretudo do MST, o barulho é ainda mais falso. Os dez mil manifestantes que foram a Brasília pedir o impossível, que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dê registro a uma candidatura ilegal, obedeciam a comandos. Foi-se o tempo em que militantes de verdade empunhavam bandeiras e vestiam camisetas com a estrela e saiam felizes pelas ruas das cidades acreditando que seu partido mudaria o Brasil.
O PT saiu nesta quarta-feira de Brasília menor do que entrou. Cumpriu um ritual fúnebre ao apresentar solenemente à Justiça a candidatura de um homem impedido pela lei de se candidatar e que está cumprindo sentença por corrupção e lavagem de dinheiro em regime fechado. Mesmo que a lei fosse ignorada, Lula ainda terá de cumprir pelo menos um sexto da pena. Significa, imaginem o absurdo, que se eleito fosse comandaria o Brasil até abril de 2020 desde a cela da PF em que está trancado em Curitiba.
No fundo, para os efeitos práticos, o PT sabe que o que vale é a candidatura de Fernando Haddad. Não foi por outra razão que o ex-governador da Bahia Jacques Wagner pediu num almoço com a cúpula para o partido colocar logo o nome de Haddad nas ruas. Mais inteligente e pragmático que a média da sua turma, Wagner sabe que o PT arrisca o seu futuro ao permanecer fazendo política estudantil em momentos cruciais da vida nacional.
O Globo