Gilmar Mendes resolveu tirar o atraso. Depois de desfrutar as férias de julho, o supremo ministro voltou à ativa em ritmo frenético. Em três dias, assinou decisões que beneficiaram investigados nas três esferas de governo: municipal, estadual e federal.
Na segunda-feira, Gilmar arquivou um inquérito contra Beto Mansur, um dos chefes da tropa de choque do Planalto. O deputado foi acusado de receber R$ 550 mil para beneficiar a Odebrecht. A decisão do ministro causou estranheza. Ele engavetou o caso sem que houvesse pedido do Ministério Público.
Na terça, Gilmar premiou Jacob Barata, o rei dos ônibus do Rio. Numa canetada, ele suspendeu o processo contra o empresário que corria na 7ª Vara Federal, onde atua o juiz Marcelo Bretas. A defesa de Barata queria que o caso fosse remetido à 5ª Vara. O ministro fez mais: congelou a ação. Até segunda ordem, ela não correrá mais em vara alguma.
Gilmar foi padrinho de casamento da filha de Barata. O procurador Rodrigo Janot considerou que o laço familiar deveria impedi-lo de julgar o empresário. O ministro não se incomodou. Desde o ano passado, já tirou Barata da cadeia três vezes. Quando a imprensa quis saber se ele se considerava suspeito, sua assessoria deu uma resposta curiosa. Informou que a união dos noivos “não durou nem seis meses”.
Ontem Gilmar mandou soltar três executivos presos na Operação Ressonância, um dos braços da Lava-Jato no Rio. Eles são acusados de roubar verbas da saúde durante a gestão de Sérgio Cabral. De acordo com as investigações, um dos empresários pagava mesada de R$ 450 mil ao ex-governador.
Ao libertar o trio, o ministro afirmou que não havia motivo para prisões preventivas. A Lava-Jato fluminense discorda. Considera que os empresários podem atrapalhar as apurações, calar testemunhas ou fugir do país.
A generosidade de Gilmar alimenta os sonhos de outros réus. Ontem os advogados de Cabral pediram ao ministro que ele seja premiado com um habeas corpus. O ex-governador já foi condenado seis vezes, e suas penas somam 123 anos de prisão.
O Globo