A definição dos vices ganhou dimensão maior nesta corrida presidencial devido à indefinição do PT, que pretendia manter em segredo seu Plano B o mais possível, a fim de não oficializar o impedimento do ex-presidente Lula antes de a Justiça Eleitoral se pronunciar.
Houve até uma mudança de última hora, com o candidato Jair Bolsonaro trocando um príncipe por um general. A chapa do líder das pesquisas quando Lula não aparece ficou, assim, muito mais pesada, sem agregar apoios mais amplos.
Ao contrário, pela amostra dada ontem, na sua primeira fala oficial como candidato a vice, o General Mourão, que já chamara de “boçais” certos eleitores de Bolsonaro, aprofundou o menosprezo do candidato a negros e índios.
Disse ele na Câmara de Indústria e Comércio de Caxias que o Brasil herdou a “indolência” dos indígenas e a “malandragem” dos africanos. Tentou amenizar dizendo-se “indígena” por parte do pai, um amazonense. E pediu licença a um político negro que estava presente para afirmar que a “malandragem é oriunda do africano”.
Para o General Mourão, que já defendeu uma intervenção militar no país, é por causa desse “cadinho cultural” que os brasileiros gostam de “mártires, líderes populistas e dos macunaímas”. Pelo jeito, o General pretende rivalizar com o candidato em declarações polêmicas.
Quem ganhou com a escolha da vice foi o tucano Geraldo Alckmin, que tirou da manga a senadora Ana Amélia, do Rio Grande do Sul, na tentativa de esvaziar a força de Álvaro Dias no sul e no sudeste, e de Bolsonaro nas áreas do agronegócio. Dias, aliás, tem como vice Paulo Rabelo de Castro, ex-presidente do IBGE sem grandes lastros políticos. Ganhou alguns segundos a mais na propaganda oficial.
Alckmin já anunciara ser a favor de armar o homem das áreas rurais, idéia de que Bolsonaro foi pioneiro. Agora, com uma mulher na vice, e ainda por cima ligada ao agronegócio, tenta recuperar o espaço em uma área cativa do PSDB.
A senadora Ana Amélia, além do trabalho sério que realiza no Senado, se notabilizara como antilulista convicta, outra bandeira que Alckmin quer tirar de Bolsonaro. Quando houve denúncias de que o acampamento dos militantes petistas havia sido atacado em Curitiba, a senadora não fez por menos.
Declarou, primeiro no plenário do Senado, e depois em uma reunião partidária no interior do seu estado, que os ataques eram bem-vindos: “Quero parabenizar Bagé, Santa Maria, Passo Fundo, São Borja. Botaram a correr aquele povo que foi lá levando um condenado se queixando da democracia. Atirar ovo, levantar o relho, mostra onde estão os gaúchos”.
Aliás, o agronegócio deu mais um vice já oficializado, a senadora Kátia Abreu, que, além de ser mulher, entrará na chapa de Ciro Gomes com a missão específica de garantir aos agricultores que o candidato será sensível aos seus anseios.
A chapa de Marina ganhou em coerência com a indicação de Eduardo Jorge, do Partido Verde, mas é mais do mesmo, fala para convertidos. O MDB, completamente desgastado pelo governo Temer, terá Henrique Meirelles como candidato, com um vice do Rio Grande do Sul, o ex-governador Germano Rigotto. Uma chapa puro-sangue que não parece ter muito futuro.
A maior polêmica ficou por conta da escolha do PT, um vice de um candidato inviável juridicamente, embora forte politicamente. Registrar Lula serve apenas para cumprir formalidades políticas, pois agora todos sabem que o Plano B é Haddad. A manobra é tão complicada que o vice do PT já tem uma vice, a deputada Manuela D´Ávila do PC do B.
Quando eleito pela primeira vez, em 2002, Lula ampliou seu eleitorado incluindo na chapa o empresário José de Alencar. A chapa Haddad – Manuela é mais fraca politicamente até que a de Dilma – Temer, que tinha Lula em seu auge e com capacidade presencial para fazer campanha.
Sempre que Lula disputou eleição com vices do mesmo grupo político, perdeu. Foi assim em 1989 com José Paulo Bisol do PSB; em 1994 com o petista Mercadante; em 1998 com o pedetista Leonel Brizola. A ver se na cadeia e com uma chapa de nicho esquerdista, Lula conseguirá transferir seu prestígio em votos para Haddad.
O Globo