Augusto Heleno como vice de Bolsonaro. Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

Augusto Heleno como vice de Bolsonaro. Por Reinaldo Azevedo

18 de julho de 2018 às 11h02 Por Heron Cid
Augusto Heleno, general do Exército

O general Augusto Heleno (PRP), da reserva, deve ser anunciado, nesta quarta, como o candidato a vice do capitão, também da reserva, Jair Messias Bolsonaro (PSL). Se a ninguém deveria surpreender o fato de Bolsonaro formar uma chapa puro-sangue — isto é, composta por dois militares —, não deixa de ser surpreendente e exótico que, na mistura de farda, pijama e política, um quatro-estrelas bata continência para um capitão que tem na carreira uma punição por indisciplina.

A escolha expõe o isolamento da candidatura de Bolsonaro, que, não obstante, tem demonstrado uma resiliência para muitos inesperada. É expressão, sem dúvida, da obra levada a efeito por mestres da política como Rodrigo Janot e Deltan Dallagnol. O permanente incitamento do ódio à política, sob o pretexto de combater a corrupção, leva à emergência de nomes que encarnam, para efeitos publicitários ao menos, a antipolítica. Alimenta-se a ilusão de que é possível governar o país com o auxílio de ETs. E, que se note, nesse imaginário doidivanas, nem sempre os seres de outras galáxias vestem farda.

Eles podem vir embalados pela clorofila de Marina Silva (Rede), outro nome que aparece bem nessa fase das pesquisas, mas que também não consegue arrebanhar aliados. Justiça se faça: ainda é mais fácil saber o que pensa Bolsonaro, por mais que seja um tanto assustador, do que arrancar uma opinião objetiva da líder da Rede. Os eleitores convictos das duas candidaturas estão convencidos da inutilidade dos instrumentos políticos de gestão do Estado e entendem que a mediação serve apenas à procrastinação e ao adiamento de soluções.

Esses eleitores acreditam é na intervenção do líder. Os bolsonaristas apostam na força do punho do chefe; os marinistas, nas virtudes mediúnicas da líder. Não por acaso, Bolsonaro e Marina são os dois nomes da disputa mais reverentes ao lado perverso da Lava Jato. Ao saltar do território do necessário combate à corrupção para o da política, a força-tarefa mal disfarça seu ranço autoritário e encontra a sua devida expressão ou na direita fascistoide ou no messianismo ongueiro. Responda, leitor, de bate-pronto: quem seria obrigado a promover um verdadeiro loteamento do governo? Aquele que chegasse ao poder liderando uma coligação de partidos ou o cavaleiro solitário que teria de começar a formar do zero uma maioria congressual? A resposta parece evidente.

Augusto Heleno liderou as forças da ONU no Haiti e foi comandante militar na Amazônia. É um homem respeitado por militares da ativa e da reserva, mas já demonstrou não ter preparo para a vida pública. Faz sentido. Sua atuação é orientada pelo senso da hierarquia e pela obediência devida. A política, em certa medida, é o oposto disso porque território por excelência da negociação. Nessa área, o oliva não se impõe entre os 50 tons de verde.

A escolha do general da reserva para vice evidencia que Bolsonaro foi malsucedido no esforço de atrair o PR — sonhava ter o senador Magno Malta (ES) no posto — e lhe fecha as portas para qualquer entendimento com outras legendas de porte médio. A chapa ganha densidade apenas entre os já convertidos. E vai esfriar o ânimo de setores da elite econômica que vinham dando piscadelas para Bolsonaro, a exemplo do que se viu em recente evento na Confederação Nacional da Indústria. A menos que exista algum empresário que imagine que, com general da reserva como vice, o capitão de pijama poderia mandar cercar o Congresso com tanques, passando a sua pauta na marra.

Não aconteceria. Não vai acontecer.