O medo do desemprego voltou ao pior nível desde 2016, no auge da crise. E com razão, porque a esperança de que o país retomasse o crescimento este ano foi embora. As últimas projeções mostram que 2018 será tão morno quanto o ano passado. Mas há um elemento a mais neste momento: a paralisia de decisão dos empresários. Com a campanha incerta, os planos de investimento estão indo para a gaveta.
Um grande empresário de São Paulo, com negócios em vários setores da economia, do varejo à indústria, explica que suas empresas estão jogando na defensiva e devem permanecer assim até que um novo governo assuma e mostre capacidade para aprovar as reformas no Congresso. A paralisação do setor de transportes foi um choque ainda não totalmente contabilizado e que agravou profundamente a confiança.
— Estou 100% hedgeado (protegido contra variação cambial) na indústria. No varejo, as liquidações começaram mais cedo para reforçar o caixa. A greve dos caminhoneiros trouxe de volta um Brasil que a gente achava que já tinha ficado para trás, do tabelamento, do subsídio ao diesel. Virou a chave na cabeça do empresário de que o país ainda pode andar muito para trás — explicou.
Na segunda-feira, o mercado financeiro reduziu mais uma vez as projeções para o PIB deste ano, para 1,53%. Há apenas quatro semanas, o número estava em 1,94%. A perda de confiança foi muito rápida e já atinge os números para o ano que vem, que caíram de 2,8% para 2,5% no último mês. Mas a verdade é que o ano de 2019 ainda é uma incógnita, diante da gravidade da crise fiscal e da falta de lideranças políticas para lidar com o problema.
— O ano que vem ninguém sabe. As eleições têm quatro ou cinco candidatos competitivos, mas nenhum deles transmite a confiança de que conseguirá encaminhar a questão fiscal. Uns têm uma agenda que seria catastrófica, outros têm um discurso reformista, mas ainda não demostram ter força política — disse.
O Indicador Antecedente do Emprego (IAEmp), medido pela Fundação Getúlio Vargas, caiu 5,6% na passagem de maio para junho. Foi o quarto recuo consecutivo. Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou que em junho o Índice de Medo do Desemprego voltou ao nível que havia alcançado durante o auge da crise, em 2016. A indústria despencou em maio, por causa da greve do setor de transportes, e o comércio pode ter tido uma queda bem menor, segundo projeções da Tendências Consultoria, indicador que o IBGE vai divulgar hoje. Mas, ao contrário da indústria, que trabalha por encomendas, no varejo as vendas perdidas dificilmente serão recuperadas.
Há outros fatores que assustam qualquer investidor no Brasil, como a onda de sandices que têm avançado na tramitação no Congresso. Em época de liquidação, em fim de governo, em fim de semestre e no começo de campanha eleitoral, o Congresso aprovou ou deu passos importantes em várias matérias explosivas, como expliquei aqui na coluna de sábado, Congresso bomba.
O que esses votos comprovam é que parlamentares da oposição e do governo não têm noção mínima das restrições orçamentárias e fiscais do país. Não há grande esperança de renovação desse Parlamento porque as regras de financiamento público e de tempo de TV favorecem o status quo. O tempo e o dinheiro vão para os partidos que dominam o Congresso e os líderes partidários vão distribuir o dinheiro principalmente para quem já está na vida política.
Tudo isso vai entrando na conta do empresário que hoje tem que tomar uma decisão de investir ou não no país. Se os planos vão para a gaveta não se criam novos empregos. E por isso é que a elevação do medo do desemprego, sentimento captado pelas pesquisas, tem bases concretas. O país enfrenta uma prolongada crise no seu mercado de trabalho, iniciada em 2015, e não há horizonte para sair dela. Nos próximos meses, os dados podem trazer alguma queda do desemprego, mas será por fatores sazonais. É doloroso olhar em volta. Ontem a OCDE divulgou a taxa média do desemprego nos países membros da entidade: é de 5,2%. O nosso, como se sabe, é mais do que o dobro disso.
O Globo